BUDISMO TIBETANO,UMA ABORDAGEM COMPREENSIVA

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Palácio Potala, em Lhasa, a antiga sede do governo e do Dalai Lama no Tibete
BUDISMO TIBETANO,UMA ABORDAGEM COMPREENSIVA
O budismo tibetano é classificado como Vajrayana (sânscrito: “caminho do diamante”), tradição que surgiu entre iogues indianos, provavelmente a partir do século 4, como uma linha mahayana com mais meios para se chegar à realização — por exemplo, recitação de mantras, visualizações e meditações elaboradas.
No Tibete, país onde o Vajrayana se tornou predominante, essa tradição foi introduzida no século 8, pelo indiano Padmasambhava. No século 11, após um período de declínio do budismo, houve uma re-introdução a partir da Índia.
Há quatro principais escolas do budismo tibetano: Nyingma, derivada da primeira introdução, e as escolas que surgiram a partir da segunda introdução: KagyuSakya e Gelug. Apesar de diferenças de terminologia e liturgia, basicamente todas se assemelham.
A tradição Bön, que existia no Tibete antes do introdução formal do budismo, também é considerada uma escola Vajrayana por alguns acadêmicos e mestres tibetanos — entre eles, o Dalai Lama.

Ocidente

Após a consumação da invasão chinesa no Tibete, em 1959, houve um êxodo de tibetanos para países próximos como Índia, Nepal e Butão. Visitantes ocidentais começaram a ter contato com essas comunidades exiladas nos anos 60, dando início à propagação do budismo tibetano no ocidente.
Outro principal difusor dessa escola é o Dalai Lama, que era o monge governante do Tibete e também líder da escola Gelug.

Brasil

No país, todas as tradições tibetanas estão representadas. Para uma lista de centros e eventos, veja:
Há no Brasil também grupos derivados da escola Gelug, que deixaram de reconhecer o Dalai Lama como um líder espiritual, após discordâncias doutrinárias. Por exemplo, a Nova Tradição Kadampa e centros ligados ao Lama Gangchen.
Budismo
Budismo é a tradição formada a partir das práticas ensinadas por Sidarta Gautama, conhecido como Buda, há pelo menos 2.400 anos na Índia.
A prática central de todas as linhas budistas é a meditação, para uma familiarização e entendimento sobre a própria mente. Os tipos de meditação e a filosofia sobre o caminho e os resultados variam conforme a escola.
Muitos adeptos são atraídos pelo fato de o budismo ser não-teísta, ou seja, não gira em torno de um deus criador. A ênfase é na responsabilidade de cada pessoa pelas experiências que ela e os outros vivenciam. E cada ponto dos ensinamentos é aberto para exame e questionamento.

Centros de prática

As pessoas que procuram iniciar a prática, geralmente, fazem isso através de algum centro budista. No link a seguir, está sendo construída uma lista de centros e grupos de prática no Brasil:

Pintura não finalizada nas cavernas Kenhari, Mumbai (Índia), cujas inscrições datam de 100 AC a 1000 DC de budismo


Tipos de Budismo


No Brasil, a maioria das principais linhas budistas estão presentes. É possível dividir as diferentes escolas em duas (ou três):
  • Theravada – linha praticada em países do sudeste asiático e Sri Lanka
  • Mahayana – praticada em países como China, Coréia do Sul, Japão, Tibete etc. Há subdivisões do Mahayana como Zen, Chan, Terra Pura e o Vajrayana
  • Vajrayana – essa subdivisão Mahayana às vezes é vista como uma terceira escola. É a classificação do budismo tibetano e de algumas escolas japonesas
Com poucas exceções, a relação entre todas as tradições é harmônica e respeitosa.
Para mais detalhes sobre as diferentes escolas, leia:
Para mais detalhes sobre o budismo e seu fundador, a Wikipédia tem artigos bem informativos:

Biografia de Jigme Lingpa


Rigdzin Jigme Lingpa (Tibete, séc. 18)
por Tulku Thondup (“Masters of Meditation and Miracles”)
Rigdzin Jigme Lingpa (Tibete, 1730 ~ 1798) foi a encarnação (tulku) tanto do rei Trisong Detsen (ano 790 ~858) quanto de Vimalamitra. Também é conhecido como Khyentse Özer, Raios de Sabedoria e Compaixão. Ele descobriu o vasto e profundo ciclo de ensinamentos Longchen Nyingthig como um tesouro da mente.
Em “A profecia secreta de Lama Gongdu”, descoberto por Sangye Lingpa (ano 1340 ~ 1396), Guru Rinpoche anteviu a vinda de Jigme Lingpa 700 anos antes:
No sul [do Tibete] haverá um tulku chamado Özer.
Ele deverá liberar seres através dos profundos ensinamentos de Nyingthig.
Quem quer que se conecte a ele, será guiado à terra pura dos vidhyadharas por ele.
Jigme Lingpa nasceu em uma vila no início da manhã do 18º dia do 12º mês do ano do Pássaro de Terra do 12º Rabjung (1730) no vale Chongye no sul do Tibete, não muito longe das tumbas reais da dinastia Chögyal, conhecidas como “tumbas vermelhas”. Embora seus pais sejam descendentes de famílias nobres do passado, eram humildes, o que Jigme Lingpa reconhece como uma bênção que o permitiu adotar a vida espiritual sem ter que passar por obrigações sociais e ostentação aristocrática.
Desde a infância ele lembrava de suas encarnações anteriores, como o grande terton Sangye Lama (1000 ~ 1080?). Um de seus dentes tinha a marca de uma sílaba da fala do Buda AH, fato reconhecido como um sinal de que ele era a reencarnação de Vimalamitra. Além disso, como indicado em uma profecia escrita, ele tinha 30 pequenas verrugas avermelhadas na forma de um vajra na altura do coração, e linhas na forma de uma letra HYA ou HRIH, a sílaba-semente da deidade Hayagriva, em seu polegar direito. Desde a infância sua mente era desapegada dos prazeres mundanos, e ele era extraordinariamente compassivo, inteligente e corajoso.
Ele reconheceu ser a 13ª encarnação de Gyalse Lhaje, o receptor dos ensinamentos Kadü Chökyi Gyatso de Duru Rinpoche, ambos tertons. Além disso, na prece para sua linhagem, que ele escreveu para seus discípulos, Jigme Lingpa menciona muitas de suas vidas passadas e uma das futuras, do modo como as viu:
[1] Samantabhadra, onipresente senhor do samsara e nirvana, o continuum da base, a própria essência da natureza Buda,
[2] Então, [a união de] compaixão e vacuidade surgiu como Avalokiteshvara, e
[3] Prahevajra, a ti eu rezo.
[4] Então, manifestou-se como o filho do Rei Krikri na presença do Buda Kashyapa,
[5] Nanda, o irmão mais novo de Buda,
[6] Akarma[ti], uma manifestação do [Rei] Songtsen Gampo, e
[7] [Rei] Trisong Detsen, a ti eu rezo.
[8] [Mahasiddha] Virvapa [da Índia], [9] Princesa Pemasal,
[10] Gyalse Lhaje, o Senhor em pessoa,
[11] Trime Kunden [da Índia], [12] Yarje Orgyen Lingpa [1323 ~ ?],
[13] Daö Zhönu [1079 ~1153, Kagyü] e [14] Trakpa Gyaltsen [1147 ~ 1216, Sakya], a ti eu rezo.
[15] Então, Longchen Rabjam [1308 ~ 1363], a manifestação do próprio Mahapandita Vimalamitra,
[16] Ngari Penchen [1487 ~ 1542], [17] Chögyal Phüntsok [séc. 16, filho de Drikung Rinchen Phüntsok],
[18] [Changdak] Tashi Tobgyal [1550 ~ 1602?], [19] Dzamling Dorje [de Kongpo] e
[20] Jigme Lingpa [1789 ~ 1798], a ti eu rezo.
[21] Depois disso, através da manifestação de Yeshe Dorje [1800 ~ 1866].
Aos seis anos, como monge noviço ele entrou no monastério Palri (Shriparvata) no vale Chongye, o assento de Trangpo Terchen Sherab Özer (1517 ~ 1584). Tsogyal Tülku Ngawang Lobzang Pema deu a ele o nome Pema Khyentse Özer.
Entre a idade de seis a 13 anos, gastou mais tempo — com ele mesmo diz — brincando com os noviços de sua idade do que com os estudos. Ele vivia a vida de um noviço pobre com poucas coisas para facilitar o aprendizado, lidando com tutores-disciplinadores muito estritos ano após ano. No entanto, a intensidade de seu zelo pelo Darma, sua devoção espontânea a Guru Rinpoche, e sua compaixão inata por todos os seres vivos, especialmente animais, sustentaram-no e fizeram sua infância extremamente alegre e significativa. Embora parecesse um noviço insignificante, sua vida interior era repleta de riquezas. Seus dias se preenchiam com realizações meditativas e visões puras inspiradoras. Suas noites se fundiam em sonhos de experiências espirituais e visões.
Em tais circunstâncias, ele obteve maestria em gramática, lógica, astrologia, poesia, história, medicina e diversas escrituras de sutra e tantra. Com a exceção do recebimento das transmissões de iniciações esotéricas, ele não sentia necessidade de ter um mestre ou estudar qualquer assunto intelectual em detalhes, do modo como outros estudantes sérios estavam fazendo. Ele aprendeu diversas disciplinas meramente ouvindo pedaços das aulas de outros alunos e passando o olho pelos textos.
Muitos mestres se tornaram eruditos após estudar e, então, tiveram realização ao meditar. Jigme Lingpa já nasceu erudito como o resultado de ter previamente despertado a realização da sabedoria em si mesmo. Contudo, como manifestação externa disso, sua final e completa erupção de sabedoria ilimitada só foi acontecer muito depois, quando ele teve as visões de Longchen Rabjam, com 31 anos. Ele escreve:
Por natureza, eu sentia-me muito feliz quando podia estudar a língua, textos seculares, escrituras sagradas e seus comentários, ou os ensinamentos Vajra sobre a natureza última. Estudava-os com grande respeito, tanto a luz do dia quando com lamparinas. Mas praticamente não tive a oportunidade de desenvolver o conhecimento estudando com um mestre, mesmo que por um dia apenas. No entanto, no glorioso Samye Chimphu, com três visões do corpo de sabedoria de Longchenpa, e por receber as bênçãos através de diversos sinais, meu karma [da erudição-sabedoria] despertou [das profundezas] da Grande Perfeição.
De Neten Künzang Özer ele recebeu sua primeira transmissão principal, os ensinamentos do Trölthik Gongpa Rangdröl, descobertos por Trengpo Terchen Sherap Özer (também conhecido como Drodül Lingpa), o ciclo do Lama Gongdü de Sangye Lingpa (1340 ~ 1396), e os “Sete Tesouros” e “Três Carruagens” de Longchen Rabjam (1308 ~ 1363).
Aos 13 anos, Jigme Lingpa encontrou o grande terton Rigdzin Thukchok Dorje e, instantaneamente, vivenciou intensa devoção, que despertou sua mente de sabedoria. Dele, recebeu as transmissões e instruções sobre Mahamudra e outros ensinamentos. Thukchok Dorje se tornou seu professor-raiz; Jigme Lingpa recebeu suas bênçãos em visões mesmo após a morte do mestre. Ele também recebeu transmissões de muitos outros mestres, incluindo Thekchen Lingpa Droton Tharchin (também conhecido como Trime Lingpa, 1700 ~ 1776), seu tio Dharmakirti, o 17º Chakzampa Tendzin Yeshe Lhundrup, Thangdrok Tulku Pema Rigdzin Wangpo de Kongpo, Trati Ngakchung Rigpe Dorje (Kong-nyon) de Kongpo, e Mon Dzakar Lama Dargye.
No início de seus 28 anos, ele começou um retiro estrito de três anos no monastério Palri, com sete votos a serem seguidos por um total de sete anos. Esses votos nos mostram a importância de aperfeiçoar-se a si mesmo antes de sair para ajudar os outros e cumprir o objetivo da vida. Seus sete votos eram os seguintes:
(1) Ele não entraria na casa de nenhuma pessoa leiga nem teria nenhum tipo de entretenimento. (2) Mesmo se estivesse vivendo em uma comunidade, ele não receberia muitas pessoas (em seu quarto) nem lideraria qualquer encontro que estimulasse raiva ou apego. (3) Ele não se corresponderia com ninguém, e nenhuma palavra vinda de fora entraria. (4) Ele manteria uma vida de austeridade, se abstendo de trocar os ensinamentos do Darma por qualquer ganho material. (5) Ele iria se abster de quaisquer atividades que provocam distração, dedicando seus esforços apenas às dez atividades do treinamento no Darma. (6) Ele viveria com simples meios de sustento, sem descuidadamente desfrutar de quaisquer materiais que tenham sido oferecidos com fé. (7) Ele não executaria nenhuma das quatro ações [rituais de pacificação, prosperidade, controle e exorcismo] e dedicaria todas atividades à liberação do samsara.
Ele concentrou sua meditação nos estágios do desenvolvimento e consumação, baseados no Trolthik Gongpa Rangtrol. Sua consciência plena permitiu que ele protegesse sua mente de distrações na meditação, mesmo pela curta duração de um estalar de dedos. Quando ele leu “Os Sete Tesouros” de Longchenpa, eles responderam todas as perguntas que tinha sobre suas experiências meditativas internas.
Ao progredir pelos estágios de realização, experimentou diversos sinais físicos e mentais de sucesso. Ele teve visões de muitas lamas e deidades, incluindo Guru Rinpoche, Yeshe Tsogyal, Manjushrimitra e Humkara, que despertaram várias etapas de sua sabedoria interna. Repentinamente, ele descobriu que dentro de si, o ponto de referência de todas suas experiências mentais foi desenraizado. Ele tinha ganhado domínio sobre o processo de suas energias kármicas. Todas as cavernas das aparências ilusórias (ou seja, os objetos em que a mente conceitual depende para forjar o samsara dualista) entraram em colapso total. Através da força da realização que despertou, ele pode rever muitas vidas passadas claramente. Mas todas essas experiências e visões estavam na natureza de unidade de sua mente realizada.
Através de técnicas de yoga ele chegou ao controle dos canais, energias e a essência de seu corpo vajra. Como resultado, sua garganta se abriu em um “ciclo abundante” de ensinamentos. Seus canais físicos se transformaram em “nuvens de letras”. Todas as aparências dos fenômenos se transformaram em “sinais e gestos do Darma”. Sua fala se tornou canções de profunda realização. Seus escritos, viraram tratados de grande poder de sabedoria e erudição. Um oceano inexaurível de fenômenos ligados a ensinamentos continuou a jorrar para ele e a partir dele.
Então, ele compôs seu primeiro grande texto, o Khyentse Melong Ozer Gyalwa, um tratado explicativo sobre o ciclo “Lama Gongu”.
Guru Rinpoche, aparecendo em uma visão, deu a ele o nome Pema Wangchen. Em uma visão, Manjushrimitra concedeu bênçãos, que provocaram a compreensão da sabedoria simbólica (mTshon Byed dPe’i Ye Shes). Depois, ele trocou seus mantos monásticos cor de vinho pelas vestes naturais de um asceta, mantos brancos sem cor e cabelos longos sem corte.
Aos 28 anos, ele descobriu a revelação extraordinário do ciclo Longchen Nyingthig, os ensinamentos do Dharmakaya e Guru Rinpoche, como um tesoura da mente. Na noite do 25º dia do 10º mês do ano do Touro de Fogo do 13º ciclo Rabdjung (1757), ele foi para a cama sentindo uma devoção insuportável a Guru Rinpoche no coração; um fluxo de lágrimas de tristeza continuamente molhava seu rosto por ele não estar na presença de Guru Rinpoche, e incessantes palavras de preces ficavam cantando em sua respiração.
Ele permaneceu nas profundezas daquela experiência meditativa de clara luz (‘Od gSal Gyi sNang Ba) por um longo tempo. Enquanto estava absorto nessa clara luz, ele teve a experiência de voar uma grande distância pelo céu montado em um leão branco. Finalmente, chegou a um caminho circular, que ele pensou ser a trilha de circumambulação de Charung Khashor, hoje conhecida como estupa de Bodhnath, um importante ponto de peregrinação budista de proporções monumentais, no Nepal.
No lado leste da estupa, ele viu o Dharmakaya surgindo na forma de uma dakini de sabedoria. Ela o confiou um belo porta-jóias de madeira, dizendo:
Para os discípulos com mente pura,
Você é Trisong Detsen.
Para os discípulos com mente impura,
Você é Senge Repa.
Este é o tesouro de mente de Samantabhadra,
A escrita simbólica de Rigdzin Padma[sambhava], e
Os grandes tesouros secretos das dakinis. Fim dos sinais!
A dakini desvaneceu. Sentindo grande alegria, ele abriu o porta-jóias. Ali, descobriu cinco rolos de pergaminho amarelo com sete contas de cristal. De início, a escrita era ilegível, mas depois se transformou em língua tibetana. Um dos rolos era o Dug-ngal Rangtrol, a sadhana de Avalokiteshvara, e outro era o Nechang Thukkyi Drombu, o guia de profecias do ciclo Longchen Nyingthig. Rahula, um dos protetores dos ensinamentos, apareceu diante dele para prestar homenagem.
Ao ser encorajado por outra dakini, Jigme Lingpa engoliu todos os pergaminhos amarelos e as contas de cristal. Instantaneamente, teve a maravilhosa experiência de que todas as palavras do ciclo Longchen Nyingthig e seus significados despertaram em sua mente, como se estivessem ali gravadas. Mesmo após sair dessa experiência meditativa, ele continuou na realização do estado desperto intrínseco, a grande união de êxtase e vacuidade.
Assim, os ensinamentos Longchen Nyingthig e a realização, que foram confiadas e ocultas nele por Guru Rinpoche muitos séculos antes, despertaram, e ele se tornou um terton, o descobridor do ciclo de ensinamentos Longchen Nyingthig. Gradualmente, ele transcreveu os ensinamentos do ciclo, começando com o Nechang Thukkyi Drombu.
Ele manteve todos seus ensinamentos descobertos em segredo completo por sete anos, já que o tempo ainda não estava maduro para ensinar aos outros. Também era essencial que o terton praticasse ele mesmo os ensinamentos primeiro.
Embora estivesse levando a vida de um iogue oculto, respeito e fé por ele cresceram espontaneamente nas pessoas ao redor, e ele se tornou uma fonte de benefícios para muitos, já que aperfeiçoou o poder das quatro ações sem precisar se esforçar para adquiri-lo.
Aos 31 anos, começou a cumprir um segundo retiro de três anos em Chimphu, perto de Samye. Primeiro, ele começou o retiro em um local conhecido como a caverna do Norte de Nyang. Depois, descobriu outra caverna e a reconheceu como Sangchen Metok ou o caverna do Sul de Nyang, onde o rei Trisong Detsen recebeu os ensinamentos Nyingthig de Nyang e meditou neles. Pelo restante do retiro, ele viveu na caverna Sangchen.
Durante seu retiro dem Chimphu, a mais elevada realização Dzogpa Chenpo despertou em Jigme Lingpa. Esse despertar foi causado por três visões puras do corpo de sabedoria de Longchen Rabjam (1308 ~ 1363), o Dharmakaya em manifestação pura. Na caverna do Norte de Nyang ele teve a primeira visão, em que recebeu a bênção do corpo vajra de Longchen Rabjam. Jigme Lingpa obteve a transmissão tanto das palavras quanto do significado dos ensinamentos de Longchen Rabjam. Após mudar-se para Sanghcen Phuk (Grande Caverna Sagrada), ele teve a segunda e terceira visões.

Jigme Lingpa
Na segunda visão, ele recebeu a bênção da fala de Longchen Rabjam, que transmitiu o poder para ele ser o detentor e propagador dos ensinamentos profundos de Longchen Rabjam, como seu regente. Na terceira visão, Jigme Lingpa recebeu a bênção da mente de sabedoria de Longchen Rabjam, que despertou ou transferiu o poder inexprimível do estado desperto intrínseco iluminado de Longchen Rabjam para ele.
Agora, para Jigme Lingpa, como não havia nenhum ponto de referência objetivo, todas as aparências externas se tornaram sem fronteiras. Não havia nenhuma meditação separada ou estado meditativo a perseguir. Como não havia nenhum designador objetivo em sua mente interna, tudo se tornou naturalmente livre e totalmente aberto em unidade.
Ele compôs o Kunkhyen Zhallung e outros escritos como o verdadeiro significado dos “Sete Tesouros” de Longchen Rabjam, que despertaram em sua mente. Jigme Lingpa expressou seu poder de sabedoria em canções vajra para seus devotados companheiros eremitas, sobre diversas situações:
[continua …]

Traduzido de “Masters of Meditation and Miracles”, de Tulku Thondup. Publicado no aniversário de Rigdzin Jigme Lingpa: 18 de outubro, em 2012.

Chagdud Rinpoche


Chagdud Tulku Rinpoche (Tibete, 1930-
08-12 ~ Brasil, 2002-11-17)



Chagdud Tulku Rinpoche foi um eminente e realizado mestre tibetano que difundiu amplamente o budismo na América.
Seus principais professores foram Tulku Arik, Tromge Trungpa, Khenpo Dorje, Dilgo Khyentse e Dudjom Rinpoche.
Nascido em 12 de agosto de 1930 no Tibete (Kham), fugiu do país após a invasão chinesa em 1959. Viveu na Índia e Nepal até 1979, quando se mudou para os EUA.
Em 1994, mudou-se para o Brasil, onde também fundou diversos centros budistas. Seu corpo faleceu em 17 de novembro de 2002, em Três Coroas (RS), demonstrando surpreendentes sinais de realização meditativa.

Links

História

Ensinamentos online

Livros em português

CDs

DVDs

  • Drubchen, por nós – Documentário sobre extenso ritual de prática
  • Wisdom Fire – Documentário sobre a cerimônia de cremação do corpo de Chagdud Rinpoche

Prece pela longa vida de Chagdud Yangsi Rinpoche




Chagdud Tulku Rinpoche (Tibete, 1930 ~ Brasil, 2002)
(este texto contém caracteres tibetanos. Tradução literal, para interessados na língua tibetana)
།འཆི་མེད་སྐུ་རྙེད་པདྨ་སམྦྷ་ཝ།
tchime ku / nye / pema sambawa
O corpo imortal / (você) obteve, / Padmasambhava:
།རྩ་གསུམ་རབ་འབྱམ་མཁྱེན་བརྩེ་ནུས་པ་ཡིས།
tsasum rabdjam / khyentse / nüpa yi
Três Raízes infinitas / (de seu) amor e conhecimento / por esse poder
།གར་གྱི་དབང་ཕྱུག་མཆོག་གི་སྤྲུལ་པའི་སྐུ།
garkyi wangtchug / tchog gui / trulpeku
Senhor da Dança / suprema / emanação
།སྐུ་ཚེ་བརྟན་ཅིང་མཛད་ཕྲིན་མཐར་ཕྱིན་ཤོག།
kutse / ten tching / dzetrin / tartchin shok
(tenha) vida / estável / e a atividade iluminada / seja perfeitamente consumada.
Na ocasião auspiciosa do Losar do ano do tigre de metal, Jigme Tromge Rinpoche fez pequenas modificações na prece de longa vida de Chagdud Rinpoche (1930-2002), escrita por S.S. Dilgo Khyentse, adaptando-a para o yangsi de Chagdud Rinpoche.
Leia também:


Dilgo Khyentse Rinpoche


Dilgo Khyentse Rinpoche (Tibete, 1910 ~ Butão, 1991) foi um dos maiores lamas tibetanos do século 20, sendo mestre da maioria dos lamas mais importantes hoje, incluindo S.S. Dalai Lama.
Viveu cerca de 20 anos em retiros em cavernas ou eremitérios no Tibete e, por sua vida e atividades, foi um exemplo vivo para os que se aproximavam de como seria estar frente-a-frente com um mestre como Padmasambhava, que propagou o budismo Vajrayana no Tibete no século 8.
Sendo considerado mestre em todas as diferentes linhagens tibetanas, foi o mais eminente representante contemporâneo do movimento não-sectário Rime, e também um terton (descobridor/revelador de escrituras e liturgias), preservando e propagando o budismo como poucos.
Seus principais professores foram Shechen Gyaltsap Rinpoche e Dzongsar Khyentse Chokyi Lodro.
Sua reencarnação, Khyentse Yangsi Rinpoche, nasceu no Nepal, em 1993.
Leia mais:
Livro em português:
Dilgo Khyentse Rinpoche (Tibete, 1910 ~ Butão, 1991)

Depoimentos

Dalai Lama:
Não tenho dúvida de que Kyabje Dilgo Khyentse Rinpoche está entre os mestres budistas mais realizados que encontrei; ainda assim ele irradiava todo o calor e as qualidades contagiantes de um genuíno e completo bom ser humano […].
Dzongsar Khyentse Rinpoche:
Sem seu exemplo, as histórias de vida dos grandes mestres do passado seriam muito menos dignas de crédito e mais como lendas ancestrais, como Hércules realizando suas 12 grandes tarefas na mitologia grega. […] embora eu tenha testemunhado suas atividades com meus próprios olhos, quando relembro, também encontro muitas coisas difíceis de acreditar […].
Sogyal Rinpoche:
Em todos os sentidos, havia algo de universal, até sobre-humano nele, tanto que numa época os jovens lamas reencarnados — que ele cuidava com um carinho e cuidado infinitos — brincavam chamando-o de “Sr. Universo”.
Shechen Rabjam Rinpoche:
Penso que Khyentse Rinpoche foi um dos exemplos mais finos do mestre espiritual perfeito. Ele era, na verdade, um mestre dos mestres; a maioria dos professores tibetanos do século 20 recebeu ensinamentos dele. […]
Durante os 20 anos que passei com Khyentse Rinpoche, nunca testemunhei ele ficando ou muito deprimido ou extremamente excitado; seu humor era sempre equilibrado. […]
Ele sublinhava que após anos de prática, a medida de nosso progresso deve ser o ganho de um senso de paz interior, tornando-nos menos vulneráveis a circunstâncias externas. […]
Embora não possamos encontrar mais Khyentse Rinpoche, quando alguém lê seus ensinamentos ou escritos, pode experimentar a profundidade de sua sabedoria e compaixão.
Orgyen Tobgyal Rinpoche:
Mesmo em idade avançada, ele ainda requisitava ensinamentos de qualquer um que possuísse uma tradição que ele ainda não tinha recebido, e às vezes até se engajava em novos estudos. Com frequência escutavam ele dizer: “Eu mesmo não sou instruído, mas gosto do fato de que outras pessoas são chamadas de instruídas”.

Biografia

O professor está bem no centro do mundo do budismo tibetano. Dilgo Khyentse Rinpoche foi o arquétipo do professor espiritual. Sua jornada interna o levou para uma profundidade extraordinária de conhecimento que o habilitou a ser — para todos que o encontraram — uma fonte de bondade amorosa, sabedoria e compaixão.

Infância

Dilgo Khyentse Rinpoche nasceu em 1910 no Tibete Oriental em uma família que descendia da linhagem do rei Trisong Detsen, do século 9. Quando ainda estava na barriga de sua mãe, foi reconhecido como um tulku, ou reencarnação, por um ilustre professor, Mipham Rinpoche. Depois foi entronizado como uma emanação da mente de Jamyang Khyentse Wangpo, um dos mais importantes tertons (reveladores de textos e práticas) e escritores do século 19. Khyen-tse significa sabedoria e amor.
Mesmo quando pequeno, Rinpoche já manifestava um forte desejo de se devotar inteiramente à vida espiritual. Embora seu pai quisesse que ele seguisse seus passos, ele finalmente concordou em permitir que seu filho buscasse suas aspirações e, com a idade de 11 anos, Rinpoche ingressou no monastério Shechen, em Kham, um dos seis principais monastérios da escola Nyingma.

Na época dos retiros em cavernos, com os mantos brancos de iogue

Educação e professores

Dilgo Khyentse Rinpoche recebeu transmissões de mais de 50 mestres de todas as escolas tibetanas, incluindo seu guru-raiz, Shechen Gyaltsap, de quem recebeu todas as iniciações essenciais e instruções da tradição Nyingma. Então, da idade de 15 até os 28, aproveitou seu tempo meditando em retiro silencioso, vivendo em eremitérios isolados e cavernas, ou às vezes simplesmente debaixo da cobertura de rochas protuberantes pelas regiões interioranas e montanhosas do Tibete.
Ele depois passou muitos anos com Dzongsar Khyentse Chokyi Lodro (1893 ~ 1959), que o designou como seu herdeiro espiritual. Quando disse ao seu professor que queria passar o resto da vida em retiro solitário, Chokyi Lodro respondeu: “Chegou a hora de você ensinar e transmitir aos outros os ensinamentos preciosos que recebeu”. Desde então, Rinpoche trabalhou para o benefício dos outros com a energia incansável que é a marca que distingue a linhagem Khyentse.
Ele foi um grande professor, terton e o mais eminente adepto moderno da tradição tibetana não-sectária, ou Rimed, sendo detentor de linhagens de todas as escolas do budismo tibetano. Também foi um dos últimos mestres a ter concluído todo o treinamento no Tibete. Seus termas (textos redescobertos) enchem cinco volumes.

Vida em exílio

No final dos anos 50, Khyentse Rinpoche e sua família — sua mulher, Khandro Lhamo e suas duas filhas novas — deixaram o Tibete. Eles foram recebidos no Butão pela família real butanesa. Rinpoche começou de novo, ensinando em uma grande escola perto da capital do país. Logo suas qualidades internas atraíram muitos alunos e, com o passar dos anos, se tornou o principal professor budista no Butão, reverenciado por todos, do Rei até o mais humilde fazendeiro. No Butão, Rinpoche deu ensinamentos, executou cerimônias, escreveu tratados e textos e supervisionou a preservação e construção de numerosas estupas e estátuas.

Contribuições para a tradição

Rinpoche devotou esforços consideráveis para fundar e sustentar templos, faculdades e monastérios onde o estudo e prática da tradição budista poderiam ser realizados. Uma de suas últimas atividades foi fundar o monastério Shechen Tennyi Dargyeling, no Nepal. Ali, ele transplantou a rica tradição Shechen em uma nova casa: um monastério magnífico perto da grande estupa de Bodhanath.

Dalai Lama recebe iniciação de Dilgo Khyentse Rinpoche
Na Índia, ele construiu a estupa de Bodhgaya, e planejava construir sete estupas em locais de peregrinação para evitar conflitos, doenças e fome, promovendo a paz mundial. Khyentse Rinpoche era amplamente reconhecido como um dos maiores mestres Dzogchen de seu tempo, sendo o professor de muitos lamas importantes, incluindo Sua Santidade Dalai Lama, Shechen Rabjam Rinpoche, Pema Wangyal Rinpoche, Chogyam Trungpa Rinpoche, Sogyal Rinpoche, Dzigar Kongtrul Rinpoche e outros professores das quatro escolas do budismo tibetano.
Mesmo em seus últimos anos, Rinpoche viajou muito pelos Himalayas e o Ocidente, transmitindo e explicando os ensinamentos. Seus livros foram traduzidos em diversas línguas ocidentais; sua inspiração ainda pode ser sentida fortemente.
Em 1985, Rinpoche fez a primeira de três visitas extensas ao Tibete. Ele inaugurou a reconstrução do monastério Shechen original, que havia sido destruído durante a invasão chinesa. Enquanto estava no Tibete Central, ele pediu permissão do governo chinês para restaurar o monastério Samye, destacando sua importância cultural como o primeiro monastério budista no Tibete. Em 1990, o templo principal de Samye foi restaurado. Onde quer que fosse no Tibete, ele era saudado com muita alegria, reverência e emoção pelas pessoas, que esperaram anos para vê-lo de novo.

Com Chatral Rinpoche (esq.) e Dudjom Rinpoche
Erudito, sábio e poeta, Dilgo Khyentse Rinpoche nunca parou de inspirar todos que encontrava através de sua presença extraordinária, simplicidade, dignidade e humor. Onde quer que estivesse, sempre orava e meditava por diversas horas antes do amanhecer e então iniciava um fluxo ininterrupto de atividade e ensinamentos — em grupos que iam desde uma dúzia a milhares de pessoas — até tarde da noite.
O que quer que estivesse fazendo, independente da complexidade e dificuldades, parecia fluir espontaneamente, sem esforço, a partir de sua visão, meditação e ação. Seu imenso conhecimento, o calor de suas bênçãos e a profundidade de sua realização interior deram a seus ensinamentos uma qualidade muito especial.
Suas realizações em diferentes campos parecem, cada uma, mais que suficiente para ocupar toda uma vida. Ele passou 20 anos em retiro, escreveu mais de 25 volumes (cada um equivalendo a um livro de mil páginas aproximadamente) sobre filosofia e prática budistas, publicou e salvou incontáveis textos e iniciou numerosos projetos para preservar e disseminar a tradição budista. Mas, acima de tudo, o que ele considerava mais importante era que os ensinamentos que ele tinha realizado e transmitido fossem colocados em prática pelos outros.
Com a idade de 81 anos, em 1991, após um breve adoecimento, ele faleceu no Butão. Estiveram em sua cremação mais de 50 mil pessoas, incluindo professores e alunos de todo o mundo.
Khyentse Yangsi Rinpoche, considerado sua reencarnação, nasceu em 1993 no Nepal.

Publicado no aniversário de Dilgo Khyentse Rinpoche (2012-06-29). Compilado à partir de, principalmente, site do monastério Shechen, autobiografia Brilliant Moon e Rigpa Wiki, por um suposto praticante brasileiro.

Dzongsar Khyentse Rinpoche




Dzongsar Khyentse Rinpoche (Butão, 1961 ~ ) é considerado a reencarnação de um dos maiores mestres tibetanos que viveram no século 20: Jamyang Khyentse Chokyi Lodro. Também estudou com os principais lamas contemporâneos, tendo Dilgo Khyentse Rinpoche como professor principal.
Pelo trabalho que faz pelo mundo todo, é um exemplo de atividade incansável e vasta em benefício do darma e seus praticantes.
Já visitou o Brasil algumas vezes, tendo realizado as consagrações rituais do Palácio da Terra Pura de Padmasambhava, no Khadro Ling (Três Coroas, RS), e do templo Odsal Ling (São Paulo), além de ensinamentos e palestras.
Alunos seus no Rio de Janeiro criaram um grupo de prática: Buda de Ipanema.
Dzongsar Khyentse também é cineasta, tendo dirigido os filmes “A Copa” (1999) e “Travellers and Magicians (2003)”.

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Jamyang Khyentse Chökyi Lodrö


Jamyang Khyentse Chökyi Lodrö (Tibete, 1893 – Sikkim, 1959)

A vida de Jamyang Khyentse Chökyi Lodrö

por Orgyen Tobgyal Rinpoche
Das encarnações de Jamyang Khyentse, o segundo foi Jamyang Khyentse Chökyi Lodrö, cuja grandeza era tanta que me é dificil sequer pronunciar seu nome, e no entanto faço-o como forma de beneficiar os outros. O seu nome completo era Jamyang Khyentse Chökyi Lodrö Rimé Tempé Gyaltsen Pal Zangpo. O seu nome secreto, dado pelo terceiro Dodrupchen Rinpoche, Tenpé Nyima, durante uma transmissão especial de Rigdzin Düpa, era Pema Yeshe Dorje. Uma vez que este mestre, o soberano senhor da mandala, viveu recentemente, existem muitas pessoas ainda vivas que podem se recordar da sua vida e confirmar o que agora vou contar.
A encarnação anterior, Pema Ösel Dongak Lingpa, passou para o paranirvana e absorveu a sua mente de sabedoria no coração do grande pandita Vimalamitra na região da Montanha dos Cinco Picos de Wu T’ai Shan na China. Assim, de modo a beneficiar os ensinamentos e os seres na Terra das Neves, ele reapareceu em cinco encarnações, tal como previsto nas profecias dos termas. O vajradhara Jamgön Lodrö Thayé supervisionou o reconhecimento destas encarnações uma por uma. Cada um dos principais filhos do coração de Jamyang Khyentse Wangpo encarregou-se de uma encarnação. Por exemplo, aquele pelo qual se encarregou Jamgön Kongtrul e se instalou em Palgung chamava-se Beru Khyentse. Uma encarnação foi entronada no assento principal de Dzongsar e outra, no mosteiro Dzogchen. Uma encarnação foi reconhecida por Pönlop Loter Wangpo e chamava-se Galing Khyentse. Todas estas encarnações emulavam o seu predecessor nas suas qualidades sem paralelo de aprender, das experiências, realizações e da atividade iluminada. Mas de todas estas, a que se destacou como uma joia a ornamentar o topo de um grande estandarte da vitória foi Jamyang Khyentse Chökyi Lodrö.
O sobrinho e supremo discípulo próximo de Jamyang Khyentse Wangpo, Kathok Situ Chökyi Gyatso, não tinha uma reencarnação no seu mosteiro de Kathok, e assim com petições fervorosas e unidirecionadas, ele requereu ao vajradhara Jamgön Kongtrul Lodrö Thayé para encontrar mais uma encarnação para Kathok. Jamgön Kontrul disse que ele já tinha reconhecido as emanações de corpo, fala, mente e qualidades, mas se requerido, ele poderia reconhecer a emanação da atividade. Mesmo assim, alertou que seria difícil para esta emanação beneficiar o assento principal do mosteiro. Explicou que caso ele se tornasse um praticante heruka, traria maior beneficio. Assim Kathok Situ pediu-lhe para identificar a criança; Jamgön Kontrul viu que ele nasceria no ano da cobra, como filho de Ridzin Tsewang Chokdrup, que por sua vez era filho do grande tertön Serpa.

Jamyang Khyentse Chokyi Lodro, Katok Situ, Khenpo Shenga e Jamgyal
Era possível rastrear de volta a linhagem de seu pai até o grande tertön Düdul Dorje, incluindo muitos outros autênticos reveladores de tesouros. A família de sua mãe era de Amdo; ela era descendente do grande mestre Sergyi Chadral. Ele nasceu no ano da Cobra d’Água; ocorreram muitos sinais maravilhosos e extraordinários, mas a sua mãe e seu pai eram ambos grandes praticantes de renúncia e não ficaram muito excitados com estas coisas, de modo que não as registraram, nem registraram nenhum dos dados astrológicos.
Tal como tinha sido requerido por Kathok Situ Chökyi Gyatso, Jamgön Kongtrul reconheceu a criança como uma encarnação de Jamyang Khyentse. Assim, na idade de oito anos, ele foi convidado a tomar seu assento no mosteiro Kathok. No dia em que chegou a Kathok, toda a região circundante de Horpo e Kathok estava completamente coberta de neve, de modo que tudo estava branco, o que era algo muito incomum para a região, e a população considerou isso como um sinal muito positivo para o futuro. Num dia auspicioso, Kathok Situ Rinpoche realizou a cerimônia de cortar o cabelo no templo principal na presença da grande estátua do Buda, e deu-lhe o nome Jamyang Khyentse Chökyi Lodrö. Entre os outros tulkus e as outras pessoas do mosteiro, nesse tempo, ele era conhecido simplesmente por Tulku Lodrö.
Quando aprendeu a ler com seu tutor, conseguia ler sem dificuldade e memorizava vários textos de práticas Sakya e a Recitação dos Nomes de Mañjushri simplesmente ao ler uma só vez. Isto era um sinal de que ele estava recordando memórias de sua vida passada. Eu às vezes provoco alguns dos tulkus no nosso mosteiro dizendo: “Meu Lama memorizou a Recitação dos Nomes de Mañjushri quando criança, mesmo sem estudar, e vocês tulkus estão recitando há meses e ainda não conseguem memorizar!”.
Uma noite ele estava numa gruta de retiro na colina atrás de Kathok, sentado num tapete ao lado de seu tutor, recitando orações. Enquanto recitava o dharani do Subjugador Vajra, ele conseguiu ver claramente o mosteiro de Kathok lá em baixo, a brilhar com a lua cheia e, nesse momento, teve uma visão do grande centro monástico dos Sakya, tão claramente como se estivesse realmente lá; e claramente recordou-se da sua vida como Ratna Vajra. Ele recordou todos os detalhes da sua vida e tudo o que possuía tão claramente como se tivesse sido no dia anterior.
Numa ocasião Kathok Situ Rinpoche teve uma reunião com todos os tulkus que moravam no mosteiro Kathok e pediu-lhes para fazerem uma adivinhação especial de sonhos e procurarem por qualquer indicação sobre quem eles eram nas encarnações anteriores. Quando regressaram para reportar o que tinham descoberto, alguns tulkus disseram que deveriam ser encarnações deste ou daquele grande lama que tinha aparecido nos sonhos. Alguns diziam que tinham sonhado com Vajrakilaya ou com Tara, ou qualquer outra deidade. Quando perguntaram a Tulku Lodrö – como era conhecido na época – sobre os seus sonhos, ele disse que não tinha sonhado com ninguém fora do comum, somente um homem tibetano comum vestido ao estilo do Tibete central, com uma grande tchuba branca com um sobretudo azul, e brincos turquesa, e o seu cabelo estava atado atrás. Quando ele disse isto, Situ Rinpoche pareceu surpreendido, e comentou sobre quão incrível era. “Impressionante”, disse ele, “mas será mesmo?”. Todos os outros tulkus gozavam  dele ao dizerem: “Somos encarnações destes grandes mestres, mas Tulku Lodrö era somente este homem comum do Tibete Central”. Mais tarde, ele percebeu que isto era um sinal de que tinha sido o Rei Trisong Detsen.
Quando criança, Jamyang Khyentse costumava explorar todos os lugares e estava sempre procurando experimentar coisas novas. Uma vez, quando seu tutor tinha-se ausentado por momentos, ele começou a revolver as prateleiras e quando encontrou uma grande garrafa de mercúrio, bebeu tudo. Quando o tutor regressou ele viu gotas de mercúrio no chão e, ao olhar as prateleiras, viu a garrafa vazia. Ele disse a Tulku Lodrö para se levantar, mas ao fazê-lo, gotas de mercúrio escorreram de suas vestes. O tutor disse: “Havia uma garrafa de mercúrio na minha prateleira, onde está ela?”. Jamyang Khyentse respondeu: “Bebi”. O tutor simplesmente olhou para ele. Mais tarde o tutor foi ter com Situ Rinpoche e disse: “Tulku Lodrö é realmente excecional. Ele bebeu uma garrafa inteira de mercúrio e não teve sequer uma dor de cabeça. Não creio que seja uma criança comum”.
Ele também gostava de observar danças e entretenimentos e, assim, em ocasiões em que lhe apetecia observar algum tipo de espetáculo, Ekadzati, a Protetora Gloriosa do Mantra Secreto, aparecia a ele e, a seu pedido, abria seu peito para revelar o universo dos três reinos por completo.
Num outro sonho que teve quando criança, ele foi ao templo Tramdruk, onde uma grande mandala tinha sido preparada para uma transmissão. Ali ele viu Guru Rinpoche sentado num trono elevado, com muitas pessoas sentadas em filas prontas para receber a transmissão. Na fila em frente a ele, ele viu um monge e uma senhora num vestido tibetano e outros tantos, e ao seu lado estava um homem com roupas leigas comuns. Em conjunto, eles todos recebiam a transmissão de Guru Rinpoche. Mais tarde na sua vida ele percebeu que os monges sentados em frente a ele eram Vairochana, Namkhé Nyingpo e outros dos quais ele – o Rei Trisong Detsen – tinha recebido transmissões. A senhora tinha sido Yeshe Tsogyal. Mesmo que ele tenha sido o rei do Tibet naquela época, não teria sido correto para ele sentar-se na frente de seus mestres.
Na idade de treze, Jamyang Khyentse completou os seus estudos e foi enviado por Kathok Situ para viajar por Horkhok e Dzachukha e recolher fundos para o mosteiro. Como ele diz em sua autobiografia em verso, também foi ao reino de Ling:
Encontrei-me com o rei e a rainha do Dharma de Ling,
E expliquei-lhes de memória o Gang Gi.
Com devoção recordaram-se do seu Lama,
E ambos, rei e rainha, lágrimas verteram.
Desse momento em diante, tornaram-se meus patrocinadores,
Com votos puros, generosidade, devoção e bondade.
Como aqui diz, ele ofereceu um comentário elaborado sobre o Gang Gi Lodrö — a famosa oração a Mañjushri — ao rei de Ling, que era um tertön, e a sua rainha e outros membros da familia real. Eles tinha sido estudantes do Jamyang Khyentse anterior e, quando ele ensinou, ficaram tão comovidos pelas suas memórias que o rei e rainha realmente choraram, vendo-o como Jamyang Khyentse Wangpo em pessoa. Daquele momento em diante, tornaram-se seus patrocinadores.

Depois foi para Dzachukha e Adzom Gar. Antes de lá chegar, Adzom Drukpa Natsok Randrol teve três sonhos nos quais viu seu mestre-raiz Jamyang Khyentse Wangpo. Ele entendeu isso como uma indicação que o tulku de Kathok que ele estava à espera era a encarnação de seu mestre Jamyang Khyentse Wangpo e, assim, organizou uma recepção especial com uma tremenda procissão. Adzom Drukpa vestiu uma veste vermelha especial e atou seu cabelo de uma forma incomum. Todos os estudantes cantaram a Canção do Festim de Tsok (tsok lu) enquanto esperavam e Adzom Drukpa foi pessoalmente receber Jamyang Khyentse. Nesse momento, Adzom Drukpa fez uma grande oferenda de tudo o que tinha recebido em doações. Mais tarde na sua vida, Jamyang Khyentse recordou este evento e disse que foi uma oferenda tão grandiosa que seria quase impossível para qualquer um igualar.
Durante o retiro de verão no mosteiro de Kathok, quando deu ensinamentos sobre a Oração de Aspiração de Sukhavati e outros tópicos, inspirou muitos milhares de eruditos com o brilho das suas explicações.
Durante três anos, enquanto seu tutor estava doente, Jamyang Khyentse trabalhou arduamente para buscar água, recolher lenha, cuidar do tutor e por aí adiante. Ele não tinha ajuda de mais ninguem, fez tudo por si só. Mais tarde, ele dizia que isto tinha sido um método supremo de acumular mérito e purificar os seus obscurecimentos. Ele costumava dizer: “Purifiquei um pouco do meu karma negativo ao realmente servir meu mestre”. Seu mestre era muito estrito; costumava bater-lhe quer houvesse uma boa razão ou não. Mais tarde na sua vida, sempre que raspava sua cabeça podia-se ver as cicatrizes das pancadas. Foi no fim dos seus treze anos que seu tutor faleceu.
Pela mesma altura, a emanação do corpo de Jamyang Khyentse Wangpo, que ocupava o assento de Dzongsar, estava no mosteiro de Dzogchen para receber transmissões do Rinchen Terdzö (Precioso Tesouro de Termas) do quinto Dzogchen Rinpoche, Thubten Chökyi Dorje, e faleceu prematuramente aos treze anos. Quando isto aconteceu, o lama que era responsável pelo mosteiro de Dzogchen, outro sobrinho de Jamyang Khyentse Wangpo chamado Kalzalng Dorje, enviou uma carta a Situ Rinpoche na qual escreveu: “O tulku daqui do nosso assento de Dzongsar faleceu e eu próprio estou muito doente, perto da morte. Por favor envie o tulku que tem em Kathok para ocupar o assento de Khyentse aqui em Dzongsar. Se recusar, pode prejudicar seu samaya com Jamyang Khyentse, o Grande. Este é o meu desejo na morte”.
Situ Rinpoche leu e releu a carta e pensou que caso o lama ainda estivesse vivo haveria uma hipótese de discutir o assunto com ele, mas sabia que ele tinha falecido. Então sabia que se recusasse o pedido seria o equivalente a desobedecer seu próprio mestre e não tinha outra alternativa senão levar Jamyang Khyentse Chökyi Lodrö a Dzongsar. Ele levou-o pessoalmente. E assim Jamyang Khyentse chegou ao mosteiro de Dzongsar Tashi Lhatse com a idade de quinze anos.
Quando Kathok Situ e Jamyang Khyentse chegaram a Dzongsar, foram para os aposentos principais do falecido Jamyang Khyentse. Kathok Situ disse para o jovem Jamyang Khyentse: “Tens que ficar aqui, mas eu não me atrevo a fazê-lo. Irei para meu quarto”. Antes de Situ Rinpoche regressar a Kathok, ele realizou a cerimônia de entronização de Jamyang Khyentse e, mesmo só havendo alguns monges e lamas presentes, fez de forma muito elaborada com um longo discurso sobre as cinco perfeições e tudo mais.
Na primeira noite, quando ele pensava onde deveria dormir, olhou ao redor e viu algo feito de madeira, que quase parecia uma cama, com um tapete feito de pele de animal, e pensou consigo que deveria ser ali. Então dormiu ali. Alguns anos mais tarde quando Kathok Situ regressou e foi à residência, Jamyang Khyentse pediu para ele se sentar e apontou para a cama de madeira. Kathok Situ respondeu dizendo: “Como poderia eu atrever-me a sentar-me ali?”. Em vez disso ele prostrou-se a ela e tocou-lhe com a testa várias vezes. Depois olhou ao redor e perguntou a Jamyang Khyentse: “Onde dormes?”. Jamyang Khyentse apontou para a cama e disse: “Eu durmo aí”. Nesse momento Kathok Situ pareceu desapontado e disse: “Ah, é verdade o que eles dizem: onde um homem dorme, um cão também dorme”. Por momentos não disse nada, mas depois acrescentou: “Nesta cama dormiu o mestre de todas as linhagens dos ensinamentos do Buda no Tibet. Você acha que é correto dormir aqui também?”. Depois Jamyang Khyentse Chökyi Lodrö disse: “Talvez eu deva deixar de dormir aí então”. Mas Kathok Rinpoche disse: “Não, deve continuar. Está tudo bem”.
Nessa altura, havia um pequeno conflito entre seguidores da encarnação descoberta por Loter Wangpo e os que apoiavam outras encarnações. Antes que o conflito pudesse desenvolver-se, o rei de Derge enviou o seu próprio emissário, um ministro chamado Jagö Tobden, que declarou muito claramente que Jamyang Khyentse Chökyi Lodrö era  quem deveria ficar no assento de Dzongsar, a outra encarnação deveria ficar no mosteiro de Galon. Este julgamento resolveu o assunto e evitou mais discórdia.
Quando Jamyang Khyentse soube que Pönlop Rinpoche Loter Wangpo estava prestes a dar as transmissões do Gyüde Kuntü (Compêndio de Tantras) ele viajou para recebê-las. Loter Wangpo teve uma visão de Jamyang Khyentse Wangpo, que considerou ser um sinal que esta encarnação era diferente das outras e, assim, ele próprio foi recebê-lo. Eles prepararam um assento bastante elevado com almofadas de seda e fizeram oferendas elaboradas, dando a Jamyang Khyentse a maior das honras. Loter Wangpo deu ele próprio todas as transmissões do Compêndio de Tantras quando chegaram à seção dos tantras da yoga insuperável. Em particular, quando chegou à introdução da natureza da mente, isso foi feito de acordo com a tradição Sakya, com uma semana dispendida na investigação e no treino da mente, culminando com o lama transmitindo sua realização ao estudante. Neste momento, a mente do estudante tornou-se inseparavelmente unida com a mente de sabedoria do mestre e ele adquiriu todas as qualidade de realização.
Anos mais tarde, quando Jamyang Khyentse Chökyi Lodrö já tinha estudado com algo entre 55 e 60 mestres autênticos,  disse que, de todos eles, considerava Loter Wangpo o seu mestre-raiz; referia-se a ele como “Vajradhara Loter Wangpo” e dizia que sua bondade era incomparável.
Ele recebeu somente a seção dos tantras da yoga insuperável (skt. anuttara) do Compêndio de Tantras, pois nessa altura seu pai, Yabje Tsewang Gyurme, estava à sua espera há quase um ano em Dzongsar, tendo viajado para lá especificamente para lhe conceder as mais importantes transmissões da escola Nyingma. Assim, sem receber as outras seções, ele regressou ao seu assento em Dzongsar.
Quando chegou, seu pai Yabjé Ridzin Chenpo deu-lhe as transmissões do Lama Gongdü de Sangye Lingpa, do Kagye, do Chokling Tersar e todas as outras principais transmissões de kama e terma, uma depois da outra durante um período de dois anos.

Dzongsar Monastery, Tibet, 1953. Sentado na frente: Sakya Gongma Dagchen Rinpoche, atrás da esquerda para direita: Lama Kang Tsao Rinpoche, Gona Tulku Rinpoche, Jamyang Khyentse Chokyi Lodro Rinpoche, Dilgo Khyentse Rinpoche
Na idade de quinze, ele começou a ensinar alguns monges do mosteiro de Dzongsar, dando-lhes ensinamentos sobre a Perfeição da Sabedoria (skt. prajnaparamita). Ele recebeu também muitos ensinamentos e transmissões de Kathok Situ Rinpoche, que era um dos seus principais mestres, e também recebeu os votos monásticos.
Quando Shechen Gyaltsap Rinpoche veio ao mosteiro de Dzongsar, Jamyang Khyentse recebeu a transmissão de longa vida do Könchok Chidü dele e pediu-lhe para ficar em Dzongsar para dar mais ensinamentos e transmissões. Shechen Gyaltsap disse não poder ficar pois a água na região de Dzongsar não era boa para a sua saúde e ele teria que regressar ao mosteiro de Shechen. Mas antes de ir disse: “Você será bem-vindo para visitar-me lá, ficarei muito contente em dar-te ensinamentos e transmissões, se esse for seu desejo”.
Nesse verão, ele foi ao mosteiro de Shechen, chegando durante o retiro de verão. Gyaltsap Rinpoche estava dirigindo uma cerimônia no templo principal, mas Jamyang Khyentse estava com tanta pressa em encontrá-lo que — em vez de enviar uma mensagem e esperar para encontrá-lo formalmente — entrou diretamente. Ao entrar, a assembléia recitava a oração para disseminar os ensinamentos de Chokgyur Lingpa conhecida como As Dez Direções e Os Quatro Tempos, tendo acabado de chegar à linha: “Possam todos os mestres preciosos, o esplendor dos ensinamentos, alcançar todos os lugares como o espaço”. Eles pediram-lhe que fosse até a residência do lama; depois Gyaltsab Rinpoche deixou a assembléia e juntou-se a ele. Gyaltsab Rinpoche disse-lhe quão auspicioso foi ter chegado naquele momento da prática e continuou a repetir aquelas duas linhas da oração enquanto se prostrava a Jamyang Khyentse.
Depois foram para a área de retiro acima de Shechen e montaram uma pequena tenda de algodão. Shechen Gyaltsab concedeu-lhe o Compêndio de Sadhanas (druptap kuntü), Nyingtik YabshyiDamngak Dzö e outras transmissões. Dilgo Khyentse Rinpoche tinha sido convidado também para o mosteiro Shechen nessa época e foi entronizado por Shechen Gyaltsab em seu aposento.
Shenchen Gyaltsap e Kathok Situ enfatizaram várias vezes que para os ensinamentos perdurarem no futuro, tanto o estudo como a prática deveriam ser estabelecidos exaustivamente. Eles diziam que sem estudo e prática, os ensinamentos não teriam vida. Em concordância com seus conselhos, Jamyang Khyentse decidiu estabelecer um centro de estudos (shedra) para beneficiar os ensinamentos e ajudar assegurar a establidade do Darma no futuro.
Por volta desta altura, o rei de Derge, Tsewang Düdul, estava sendo entronizado em Derge Gönchen, e os lamas principais da região tinham sido todos convidados a participar na cerimônia. Jamyang Khyentse foi para lá e o grande khenpo Shenga Rinpoche também estava ali. Khenpo Shenga tinha ensinado no shedra Palpung mas surgiu um pequeno problema e, então, tinha se mudado para Derge. Quando ele conheceu Khenpo Shenga, Jamyang Khyentse disse: “Estou pensando em estabelecer um shedra em Dzongsar no Kham-jé e precisarei de um khenpo. Poderia vir?”. Por um momento, Khenpo Shenga nada disse em resposta. Depois, passado algum tempo, disse: “Sim. Isso será extremamente benéfico. Irei com certeza”. Mais tarde na vida, Jamyang Khyentse Rinpoche lembrou este evento e disse que nada mais na sua vida tinha sido tão auspicioso.
Depois de regressar a Dzongsar, no décimo quinto dia do mês lunar, começaram os trabalhos nos quartos dos monges e no templo de Kham-jé, renovando o Templo das Três Famílias do Buda (riksum lhakhang) que tinha sido construído por Jamyang Khyentse Wangpo. Nessa altura, o Khyentse Labrang era bastante pobre. Eles não tinham muito que pudesse ser trocado a não ser uns poucos sacos de grãos, pacotes de chá e sal. Claro, eles tinham imagens e representações do corpo, fala e mente iluminadas, mas esses não eram pertences para serem trocados. Isto significava que quando começaram o trabalho de preparar o solo e por aí afora, Jamyang Khyentse Rinpoche viajou para a área de Horkhok para recolher fundos.
Durante suas viagens, ele visitou a casa da família Lakar, onde um grande tertön de nome Ati Tertön ali vivia e recitava orações para a família. A pedido da familia Lakar, Jamyang Khyentse ficou e efetuou práticas durante três dias. Ele realizou uma cerimónia para convocar o espírito da prosperidade (yanguk) e concedeu uma transmissão de longa vida do Chimé Pakma Nyingtik. Quando estava dando a transmissão, Ati Tertön também veio recebê-la. Nessa época, ele não era tão conhecido como seria mais tarde. Quando a transmissão de longa vida terminou e todos estavam sentados em silêncio, Ati Tertön levantou-se e começou a falar espontaneamente. “Hoje foi muito auspicioso”, disse ele, ”fomos suficientemente afortunados para receber a transmissão de longa vida do Chimé Pakma Nyingtik através da encarnação de Jamyang Khyentse Wangpo”. Nesse momento tocou nas cabeças das duas jovens raparigas, Tsering Chödrön e Tsering Wangmo, que eram muito novas, e disse: “Mais tarde quando Jamyang Khyentse se tornar o grande Vajradhara, estas duas serão parte de sua assembléia de dakinis e, nesse mesmo momento, até eu poderei ter a boa fortuna de ter alguma pequena utilidade. Foi tudo muito auspicioso”. Jamyang Khyentse foi completamente tomado de surpresa com isto. “O que essa pessoa está dizendo?”, perguntou, “nunca ouvi tal coisa!”. Mas anos mais tarde quando ele recordava este evento, disse: “Aquele tertön realmente sabia de algo”.
Gradualmente o shedra de Dzongsar Kham-je começava a ser concluído e Shenga Rinpoche tornou-se o primeiro na linhagem de khenpos.
Em muitos dos mosteiros Sakya no Tibete Oriental havia a tradição de ir ao mosteiro-mãe principal no Tibete Central. No caso de Dzongsar, isto significava ir ao mosteiro Ngor. Assim, dando continuidade a esse costume, quando ele tinha cerca de vinte e quatro anos de idade, Jamyang Khyentse Chökyi Lodrö foi ao Tibete Central e visitou muitos dos lugares sagrados da região em conjunto com um pequeno séquito.
Quando ele chegou ao grande mosteiro Ngor, como seguidor da linhagem Thartse, ficou na residência de Thartse Shapdrung e, enquanto estava lá, recebeu os ensinamentos do Lamdré Tsokshé. Tal como o seu predecessor Jamyang Khyentse Wangpo — que tinha sido o mais elevado dos praticantes de mantra, um bhikshu vajradhara – ele foi a Orgyen Mindroling para receber a ordenação monástica completa de Khenpo Ngawang Thupten Norbu.
Quando chegou a Lhasa, conheceu o 13º Dalai Lama, Thubten Gyatso, o regente e visitou os três lugares sagrados de peregrinação: Samye, Jokhang e Tramdruk, tudo enquanto fazia vastas oferendas. Ele tinha vinte e quatro anos quando chegou ao Tibete Central, vinte e cinco quando tomou os votos de monge completamente ordenado; assim, deveria ter uns vinte e seis quando voltou ao Tibete Oriental.
No seu caminho de regresso, passou por Chamdo, onde o grandioso e realizado mestre, o prévio Chamdo Pakpa, convidou-o a Jampa Ling para dar uma série de transmissões. Mesmo sendo Chamdo Pakpa uma lama de elevadíssimo grau da escola Gelukpa ele foi receber as transmissões. No seu discurso, feito perante uma vasta assembléia de pessoas da região, Chamdo Pakpa declarou: “Neste momento não existe em todo o Tibete um lama tão grande como Jamyang Khyentse Chökyi Lodrö”. Alguns dos geshes mais teimosamente conservadores ficaram completamente comovidos ao ouvir tal afirmação, feita pelo grande Chamdo Pakpa, e choraram de devoção. Os representantes do governo local também pediram a Jamyang Khyentse para efetuar certas práticas para remover obstáculos na área.

Em Vajrasana, Bodhgaya, India
Ele também passou pelos dois assentos das encarnações de Chokgyur Dechen Lingpa, os mosteiros de Neten e Kela. Do segundo Neten Chokling Ngedön Drubpé Dorje, um estudante de Jamuang Khyentse Wangpo, ele recebeu muitas transmissões, incluindo o Dzogchen Dé Sum e o Tukdrup Barché Kunsel. Enquanto lá ficava, Neten Ngedrön Drubpé Dorje ofereceu a Jamyang Khyentse Chökyi Lodrö o seu próprio assistente, chamado Tsering Wangyal, que  ainda vive aos seus 92 anos, mas tinha somente 13 anos naquela altura. O rapaz não podia ir com Jamyang Khyentse de imediato pois sua mãe não queria que ele fosse embora, mas foi para Derge alguns anos mais tarde e serviu Jamyang Khyentse desde então, de modo que é agora uma pessoa muito conhecida e respeitada em Kham.
Depois ele foi para Kela, o assento da outra encarnação de Chokgyur Lingpa, Kela Chokling Könchok Gyurme Tenpé Gyaltsen, do qual ele recebeu o Rigdzin Sokdrup de Lhatsün Namkha Jikmé, Tukdrup Sampa Lhundrup e outras transmissões.
No regresso a Derge, chegou-lhe a notícia de que Kathok Situ Rinpoche tinha entrado em paranirvana. Quando ouviu isso, Jamyang Khyentse rezou várias vezes e uniu sua mente com a de seu mestre. Como resultado, Situ Rinpoche apareceu-lhe e durante vários dias deu-lhe todas as suas instruções finais e conselhos ainda não proferidos. Durante os anos seguintes, ele teve muitas visões de dia e sonhos de noite nos quais Situ Rinpoche aparecia e dava conselhos. Isto está claramente escrito na autobiografia de Jamyang Khyentse. Ele diz que podiam se comunicar sempre que desejado, o que era sem dúvida um sinal de que as duas mentes de sabedoria estavam inseparavelmente unidas.
Quando regressou a Dzongsar, ele enviou uma mensagem notificando Shechen Gyaltsap Rinpoche do seu regresso seguro e informando-o que a viagem ao Tibete Central tinha sido um sucesso. Como resposta, Gyaltsab Rinpoche enviou uma carta dizendo: “Kathok Situ Rinpoche faleceu e eu sou muito velho, estou também próximo da morte. Os ensinamentos Nyingma estão em perigo de desvanecerem, como uma lamparina cujo óleo foi completamente usado. Você tem agora a responsabilidade de olhar por esses ensinamentos com toda a sua incomparável compaixão”. De fato, nesse ano de 1926, não menos que sete grandes mestres faleceram, incluindo o Karmapa Khakyab Dorje, Kathok Situ Rinpoche, Shechen Gyatsab Rinpoche e Dodrupchen Jikmé Tenpé Nyima.
Quando Shechen Gyaltsab Rinpoche faleceu, Jamyang Khyentse foi convidado a Shechen para realizar os rituais de gong dzok (cumprimento de intenções) e erigir uma estupa de relíquias. Ele passou a sua primeira noite da viagem num lugar chamado Pawok, onde teve uma clara visão do corpo de sabedoria de Gyaltsab Rinpoche, que lhe deu a transmissão inteira e instruções do Tesouro de Preciosos Termas e conselhos. Na mesma visão, ele viu muito claramente todos os detalhes onde a reencarnação haveria de nascer, incluindo detalhes da casa, com as suas bandeiras e tudo mais. Quando chegou a Shechen, ele realizou com sucesso todos os rituais.
Algum tempo antes da sua viagem ao Tibete Central, quando havia um pequeno conflito em Dzongsar entre os apoiadores das diferentes encarnações de Khyentse, Kathok Situ tinha chegado e disse a Jamyang Khyentse: “Talvez não deva ficar. Acho que é melhor se regressar a Kathok”. Tulku Lodrö, como ele era conhecido nessa altura, considerou isto por algum tempo antes de dizer: “Desde o início da minha vida até agora, nunca fiz nada contra seus desejos, mas como esse assunto é tão importante eu realmente pensei sobre isso. Quando cheguei a Dzongsar, foi você que me instalou aqui. Já estou aqui há um tempinho, mas não seria correto abandonar a minha posição aqui devido a uma coisa tão pequena. Eu devo ficar e fazer tudo o que puder para servir o mosteiro. Enquanto estás no mosteiro Kathok nada há que eu possa fazer lá que não possas fazer ainda melhor, mas no caso de por alguma razão você já não poder lá ficar, prometo regressar por quinze anos completos e fazer tudo o que puder para servir o mosteiro”. Kathok Situ Rinpoche ficou completamente admirado com isso. Por momentos ficou sem palavras, depois com lágrimas nos olhos disse: “Sou mais velho que você e supostamente sei mais. Mas com o que acabou de dizer provou que é o mais sábio. Não poderia ter tomado melhor decisão”.
Agora Jamyang Khyentse tinha regressado a Kathok, onde completou a construção do Templo Mahamuni, com sua enorme estátua de Buda, que foi iniciada pelo próprio Kathok Situ Rinpoche, assim como um modelo de três andares dos céus de Zangdopalri de Guru Rinpoche, feito em cobre folheado por ouro, e supervisionou a produção de quase duas mil thangkas. Ele convidou Khenpo Ngakchung para o shedra. Em resumo, durante quinze anos ele trabalhou para servir o mosteiro de Kahtok e cumprir a visão de seu mestre. Depois do falecimento de Kathok Situ, a observância da disciplina monástica em Kathok tinha entrado em declínio e era difícil supervisionar todas as casas dentro do mosteiro, então Jamyang Khyentse nomeou Khenpo Kunpal, o discípulo de Mipham Rinpoche, em conjunto com Khenpo Jorden e Khenpo Nüden, para assumir a responsabilidade e eles estabeleceram uma disciplina bastante estrita.
O Mosteiro Kathok era um assento grandioso com uma história de quase mil anos e abundância de objetos sagrados e representações do corpo, fala e mente. Assim, Jamyang Khyentse sentiu que podiam compilar um inventário de todos os tesouros do mosteiro. Havia tantos tesouros que, para escrever um registro de todos eles numa única sala, foram necessários três meses.
Nessa altura ele ficava somente uns poucos meses de cada ano em Dzongsar, e a maior parte do tempo em Kathok. Em Kathok, era muito estrito e punia severamente as pessoas por quebrarem as regras. Em Bir existe um velho homem chamado Drupa Rikgyal que era monge em Kathok nesse tempo. Ele diz que mesmo todos sabendo que Jamyang Khyentse era um dos maiores bodisatvas de todo o mundo, em Kathok era tão irado que era temido como Yama, o senhor da morte. Ele disse-me que sempre que ouvia a notícia que Tulku Lodrö estava a chegar de Horkhok, todo o vale tremia de medo.
Quando a reencarnação de Kathok Situ Rinpoche foi reconhecida pelo quinto Dzogchen Rinpoche Thubten Chökyi Dorje, em acordo com as visões de Jamyang Khyentse, Khyentse Rinpoche e Khenpo Ngachung realizaram cerimônias elaboradas para a sua entronização. Nesta altura, devido ao grande cuidado que Khyentse Rinpoche tinha pelo mosteiro e também porque Khenpo Ngakchung estava a ensinar e era encarregado dos estudos, eles produziram um incrível número de eruditos.
Na véspera da entronização, um khenpo de nome Jamyang Lodrö tinha sido avisado por Khyentse Rinpoche e Khenpo Ngakchung que ele precisaria falar no dia seguinte, durante a cerimônia, sobre o tópico A Perfeição da Sabedoria. A perspectiva de falar na presença desses dois grandes mestres era suficiente para assustá-lo completamente. Ele ficou acordado toda a noite pensando no que iria dizer, mas não vinha nenhuma ideia à mente. Quando o Sol nasceu, sentiu enorme vontade de fugir, mas decidiu que isso não era uma opção. Quando entrou no templo, viu os detentores do trono de Kathok, tais como Drime Shingkyong Gönpo e a encarnação de Getse Mahapandita, assim como Jamyang Khyentse Chökyi Lodrö, Khenpo Ngakchung e a encarnação de Situ Rinpoche, sentado em seu trono. Jamyang Khyentse disse-lhe: “Você é muito versado nas escrituras, mas não tem dinheiro, então não pode comprar vestes dispendiosas. Hoje, de modo a criar a correta conexão auspiciosa, vou emprestar as minhas”. Jamyang Lodrö tomou as vestes e sentou-se, mas deixou de estar ciente sobre como ou onde se sentar.

Depois, quando o festim foi oferecido com todo o tipo de maravilhosas tigelas cheias de tremendas delícias, chegou a hora de ele falar. Sua mente estava completamente em branco, mas recitou várias orações ao lama e colocou as vestes que lhe tinham sido dadas. Quando ele se levantou para falar, descobriu que todos seus medos tinham desaparecido. Fez três prostrações e, fechando os olhos, começou a sua palestra com a homenagem. À medida que falava, não tinha noção do tempo, mas concentrou-se inteiramente no que dizia. Tinham-lhe dito para falar de forma bem elaborada, então ele deu o ensinamento mais elaborado que conseguiu. Eventualmente, um dos assistentes de Jamyang Khyentse chamado Jamdra foi até ele e disse-lhe que era tempo de parar. Eles ofereceram-lhe um lenço muito longo. Quanto abriu os olhos e olhou para cima viu que já era noite e que as estrelas estavam a brilhar. Ele tinha começado de manhã, logo após o nascer do Sol!
Quando Jamyang Khyentse, a encarnação de Situ Rinpoche e Khenpo Ngakchung se retiraram para seus aposentos, todos concordaram que o ensinamento sobre o prajñaparamita tinha sido extraordinário. Disseram que era um claro sinal que todo o trabalho que fizeram pelo mosteiro Kathok tinha sido um sucesso. Até sua destruição pelo exército vermelho Chinês, Jamyang Khyentse continuou a supervisionar o funcionamento do mosteiro Kathok.
O mosteiro de Ngor era detentor das linhagens de Lamdré Tsokshé mas Jamyang Khyentse queria mesmo assim receber as linhagens menos comuns de Lamdré Lopshé que vinham de Jamyang Khyentse Wangpo. O rei entre todos os detentores desta linhagem particular de transmissão oral era Gatön Ngawang Lekpa. Assim, embora Jamyang Khyentse o tenha conhecido em Gakhok, ele foi convidado especialmente para vir a Dzongsar onde transmitiu os ensinamentos do Lamdré Lopshé, dotado com as “quatro autenticidades”.
No passado, Gatön Ngawang Lekpa tinha ido ao Mosteiro de Dzongsar com intenção de receber de Jamyang Khyentse Wangpo essa transmissão do Lamdré Lopshé, mas foi forçado a esperar vários anos. Durante esse tempo ele foi ignorado e até mesmo considerado inapto para entrar na assembléia. Os monges de Dzongsar e as pessoas do vale local apelidaram-no de “Gambema”, que significa algo como “vagabundo”, porque parecia maltrapilho e as suas roupas estavam todas rasgadas e esfarrapadas. Quando foi convidado a Dzongsar de modo a transmitir os ensinamentos a Jamyang Khyentse, as pessoas disseram: “Nesses dias parece que até uma pessoa como Gambema é apelidado de ‘Jamgön Rinpoche’ e tratado como um grande dignitário”.
Enquanto Ngawang Lekpa chegava pela primeira vez em Dzongsar, Jamgön Kontrul Lodrö Tayé tinha visitado Jamyang Khyentse Wangpo. Todos os monges e lamas alinharam-se em procissão para receber Jamgön Kontrul, que nessa altura era muito velho e tinha que caminhar muito lentamente com a ajuda de dois assistentes. Quando chegou ao lugar onde Gambema se encontrava no meio da multidão, ele repousou um pouco e, enquanto ali estava, olhou para o céu, depois tossiu algum catarro e cuspiu-o no chão. Gambema saltou imediatamente, pegou o catarro e comeu-o. Naquele momento ele experimentou uma realização do estado natural tão vasto como o espaço. Isso significava que, de uma certa forma, ele era um discípulo de Jamyang Khyentse Wangpo e Jamgön Kongtrul. Mais tarde, tornou-se o maior mestre vivo na tradição Sakya, que, devido ao seu imenso respeito pelos ensinamentos Sakya, serviu grandemente à tradição.
Lama Jamyang Gyaltsen, da região de Gakhok, que era um mestre incrivelmente erudito e realizado e um monge muito estrito, era também um estudante de Ngawang Lekpa. Numa ocasião, Ngawang Lekpa Rinpoche entrou nos quartos de todos os seus estudantes e abriu as caixas de tormas para ver o que estavam praticando. Quando foi ao quarto de Jamyang Gyaltsen encontrou as tormas para o lama, yidam e khandro do Longchen Nyingtik. Quando viu isto, pensou para consigo mesmo: “Jamyang Gyaltsen é incrivelmente erudito. Eu pensava que ele manteria a pura tradição Sakya e  faria uma grande contribuição para seu desenvolvimento no futuro. Agora até ele pratica o Nyingtik! Parece que a maior parte dos eruditos e realizados detentores da linhagem Sakya estão se tornando seguidores da escola Nyingma. A tradição Nyingma está ficando tão conhecida como o Sol e a Lua, enquanto a escola Sakya está certamente em declínio”. Ele estava tão preocupado com essa situação, que mal conseguia dormir.
Mais tarde Lama Jamyang Gyaltsen foi a Dzongsar e encontrou-se com Jamyang Khyentse Chökyi Lodrö e Pönlop Loter Wangpo; perguntou-lhes o que podia fazer para aprofundar a tradição Sakya. Loter Wangpo e Jamyang Khyentse disseram: “Se realmente quiser fazer uma contribuição para a escola Sakya, então deve publicar a coletânea das obras de Gorampa”. Uma vez que o governo do Tibete tinha banido a publicação dos escritos de Gorampa, Lama Jamyang Gyaltsen teve de andar muitos anos à procura por todo o Tibete Central até encontrar todos os textos e estar pronto para os levar para o Kham. Ele colocou-os todos numa sacola, atou-a às costas de uma mula e iniciou a viagem. Quando chegou à região de Derge, tinha que atravessar uma ponte estreita sobre o rio Drichu, mas enquanto fazia isso, a mula escorregou e caiu, e com ela foi a sacola com os textos. Quando viu isso, Lama Jamyang Gyaltsen ficou destroçado. Ele apelou a Jamyang Khyentse Chökyi Lodrö, Pañjaranatha e ao Mahakala de Quatro-braços, colocou seu robe e seu chapéu e invocou-os. Ao fazê-lo, a mula milagrosamente chegou à margem.

Quando começaram o trabalho de publicar os trabalhos de Gorampa, surgiram muitos obstáculos. Assim Jamyang Khyentse, Lama Jamyang Gyaltsen e uma assembleia de 108 monges reuniram-se no 25º dia do mês no altar dos protetores Namgyal no mosteiro de Dzingkhok para realizar muitas centenas de milhares de ofendas de cumprimento à divindade protetora Pañjaranatha. Para as pessoas que observavam à distância, parecia que o templo estava em chamas, e muitas pessoas foram montadas a cavalo para ver o que acontecia. No fim da prática, todos os obstáculos tinham sido ultrapassados. Vocês precisam saber que o fato de a coleção de obras de Gorampa estarem disponíveis nos dias de hoje é devido inteiramente à bondade de Jamyang Khyentse Chökyi Lodrö.
O altar do protetor de Dzing Namgyal Gönkhang tinha sido estabelecido por Chögyal Pakpa quando estava a caminho da China; era considerado excepcionalmente sagrado. Com o passar do tempo, ficou em ruínas, então Jamyang Khyentse decidiu renová-lo. Quando as renovações terminaram, ele foi lá para realizar a cerimônia de consagração (rabné) em conjunto com cerca de vinte monges. Quando chegou à parte da prática para afastar os criadores de obstáculos, enquanto o chöpön estava a oferecer o olíbano (incenso) em frente da imagem, Jamyang Khyentse dirigiu a sua mente de sabedoria e a imagem de Mahakala – que tem cerca de dois andares de altura – foi vista tremendo. O mestre de cerimônias que se encontrava perante a estátua com o incenso pensou que estava havendo um terremoto, correu e saltou por uma janela.
Jamyang Khyentse Chökyi Lodrö tinha uma conexão muito especial com a forma de sabedoria de Mahakala conhecida por Pañjaranatha (Gurgyi Gönpo), que apareceu-lhe em visões ao longo da sua vida, fazendo profecias, protegendo-o de obstáculos e por aí afora.
Num mosteiro de nome Dra Gön, que ficava atrás de Derge Gönchen, havia um centro de retiros para a linhagem oral dos Sakya que tinha caído em declínio, mas Jamyang Khyentse usou seus próprios fundos, juntamente com uma contribuição do rei de Derge, para patrocinar a reconstrução. Daí em diante, até à destruição nos anos 50, tornou-se um importante centro de prática.
Poucos anos antes, Jamyang Khyentse tinha visto como a sua atividade estava se tornando vasta do mesmo como sua fama e reputação estavam se espalhando pelo Tibete; percebeu que precisava de alguém para ajudá-lo em todos os seus variados projetos. Assim sendo, seu próprio sobrinho, Tsewang Paljor, foi escolhido para se tornar seu secretário e assistente pessoal na idade de somente treze anos.
Quando estavam a renovar o centro de retiros em Dra Gön, enfrentaram muitos obstáculos. Quando Jamyang Khyentse chegou ao local, ele viu que isso era devido à presença de um altar para o protetor Shugden. Um dia Jamyang Khyentse assumiu uma forma irada e expulsou Shugden do templo de protetores em Derge Gönchen. Existem muitas histórias fantásticas que poderiam ser contadas neste momento sobre Jamyang Khyentse e Shugden, mas não creio que seja apropriado.
Jamyang Khyentse Chökyi Lodrö considerou que tinha cinco principais mestres-raíz. De todos, o que lhe apresentou o estado natural da mente e cuja bondade, por isso mesmo, excedia a de todos os outros, era o Vajradhara Loter Wangpo. Loter Wangpo era tão baixo e roliço que quando dava transmissões não conseguia efetuar alguns dos mudras com o vajra e o sino, e quando se sentava num trono, não podia sentar-se com as pernas cruzadas. Aqueles que tinham devoção viam-no como Mahakala. O seu segundo mestre-raiz era Kathok Situ Rinpoche Chökyi Gyatso. O terceiro era Shechen Gyaltsap Rinpoche, Gyurme Pema Namgyal. O quarto era Dodrupchen Jigmé Nyima.
Quando Jamyang Khyentse foi a Dodrup Gar, Dodrup Rinpoche já tinha tomado o voto de nunca abandonar seu eremitério e de nunca proferir uma palavra de discurso comum a ninguém para o resto da sua vida. Quando Jamyang Khyentse chegou houve uma procissão muito elaborada e o próprio Dodrup Rinpoche foi à porta da frente de seu eremitério com seus assistentes. Quando foram lá para fora e se sentaram, Dodrup Rinpoche disse depois de uma longa pausa: “Está cansado?”. Estas foram as únicas palavras de discurso comum que ele proferiu durante a última parte da sua vida.
Depois Jamyang Khyentse recebeu muitas transmissões e ensinamentos do Nyingtik. Especialmente durante o Palchen Düpa, Dodrup Rinpoche deu-lhe o nome secreto Pema Yeshe Dorje, que foi visto como uma indicação de que ele não era somente a encarnação de Jamyang Khyentse Wangpo, mas também de Do Khyentse Yeshe Dorje.
Nessa altura, Jamyang Khyentse também foi visitar o tertön amplamente conhecido como Tertön Sogyal, mas cujo nome de terma era Lerab Lingpa. Ele recebeu todas as transmissões orais que podia para as revelações terma de Lerab Lingpa. Lerab Lingpa estava doente nessa altura; para se recuperar, pediu que o mantra das cem sílabas de Vajrasattva fosse recitado tantas vezes quanto possível no mosteiro de Dzongsar. Está registrado que quando isto foi feito, sua doença desapareceu e a sua saúde melhorou muito. Mesmo depois de Lerab Lingpa ter passado ao parinirvana, continuou a aparecer a Jamyang Khyentse em muitas ocasiões no seu corpo de sabedoria, concedendo-lhe todas as transmissões que não pôde dar antes.
De Adzom Drukpa Rinpoche Natsok Rangdrol, ele recebeu as transmissões do Nyingtik Yabshyi e outros ciclos, e as suas duas mentes fundiram-se numa. Conjuntamente com Gyarong Tulku ele recebu ensinamentos sobre Yeshe Lama, a transmissão do poder criativo de consciência pura (rigpé tsal wang) e a transmissão de longa-vida de Könchok Chidü do quinto Dzongchen Rinpoche, Thubten Chökyi Dorje. Como disse antes, Jamyang Khyentse também recebeu um vasto número de transmissões de seu próprio pai. De Lama Jamyang Gyaltsen, ele recebeu as transmissões orais de muitos dos trabalhos de Gorampa. O mestre do qual ele recebeu maior parte da sua educação escolar sobre Madhyamika, sobre os tratados de Maitreya e outros aspectos da filosofia budista, foi Khenpo Kunpal. De Tulku Tashi Paljor, mais conhecido como Dilgo Kyentse Rinpoche – com o qual estava unido na mente de sabedoria – ele recebeu transmissões orais do Tesouro Kagyü dos Ensinamentos sobre Mantra (kagyü ngak dzö) e muitos dos pronfudos termas do próprio Dilgo Khyentse Rinpoche. De Chatral Rinpoche Sangye Dorje, que é ainda vivo, recebeu a transmissão dos ensinamentos terma de Sera Khandro.

De fato, ele estava preparado para receber transmissões de qualquer um que detivesse uma linhagem ininterrupta que não tenha sido contaminada por quebras de samaya, sem qualquer preocupação de título e fama. Se lerem a lista de mestres dos quais ele recebeu transmissões e comentários de textos, até mesmo a breve lista referida na sua autobiografia em verso, irão se espantar. E isso não inclui todas as transmissões que recebeu. De fato, a lista completa de tudo o que ele recebeu tem três volumes.
Se considerarmos a sua contribuição para preservar a tradição do estudo, ele estabeleceu o shedra Kham-jé em Dzongsar. Através da sua grande compaixão em fundar esse shedra, surgiram muitos grandes khenpos, mesmo até o dia de hoje, que estiveram entre os mestres mais eruditos do Tibete. Desde o primeiro khenpo, o grande Khenpo Shenga, até Khenpo Kunga Wangchuk, que é presentemente o responsável pelo Instituto Dzongsar na Índia, existiram treze khenpos. Dentre os que passaram pelo shedra estavam o grande Khenpo Apé, Khenpo Rinchen, Khenpo Pedam no Tibete, e Dhongthog Tulku que agora vive em Seatle. Até mesmo Namkhai Norbu Rinpoche, que é nestes dias muito famoso no Ocidente, estudou no shedra Kham-jé durante algum tempo. Os khenpos que se formaram em Kham-jé também estabeleceram muitos centros de estudo por todo o Tibete. Não somente isso, ele também estabeleceu o grande shedra Gyüdé em Kathok, que também trouxe tremendo benefício para os ensinamentos.
Em Karmo Taktsang, ele estabeleceu um grande centro de retiro para a prática das instruções essenciais das oito grandes carruagens da linhagem de prática, e especialmente para a prática das revelações terma de Jamyang Kyentse Wangpo e Jamgön Kongtrul. Muitos dos antigos mestres de retiro que aí praticaram ainda vivem. Ao renovar o centro de retiros em Dra Gön, ele assegurou que a linhagem da prática do Sakya Nyengyü tenha continuado até hoje.
Se considerarmos as estátuas e imagens que ele encomendou, havia a estátua do Grande Maitreya em Kham-jé, cuja face tinha a medida de treze mãos do próprio Jamyang Khyentse. Shakabpa escreveu na sua famosa história do Tibete que essa era a maior estátua de cobre e ouro do Buda no Tibete Oriental. Ele também estabeleceu o templo chamado Tse Lhakhang. Se tentarmos listar todos as stupas que construiu, as estátuas e thangkas que encomendou, ou os livros que imprimiu e copiou, não conseguiríamos contar. Até mesmo Tsewang Paljor, o secretário de Jamyang Khyentse, que trabalhou nestes projetos durante a maior parte da sua vida adulta, não seria capaz de listar tudo.
Quando essas imagens tinha sido terminadas, ele não ficava com elas no seu próprio mosteiro, mas enviava-as para onde fosse mais necessário. Não havia um único mosteiro na região do Kham que não recebesse oferendas de imagens, livros e stupas, como representações do corpo, fala e mente iluminados, de Jamyang Khyentse.
Se considerarmos o tempo que ele passou a praticar em retiro, durante toda a sua vida ele passava os meses de inverno em retiro e, em alguns anos, passou todo o ano em retiro. Se procurarem em sua biografia, de todas as práticas que fez, não conseguirão encontrar uma única para a qual não tenha terminado a recitação. Ele completou a recitação das práticas mais importantes três ou quatro vezes. Os nomes destas práticas estão listadas na sua autobiografia em verso. Por exemplo, ele recitou o Dukkar Chokdrup dez mil vezes.
A realização que ele alcançou como resultado de toda sua prática foi inigualável por qualquer mestre na história tibetana. Podemos dizer isso porque seus feitos registrados são diferentes de quaisquer outros. É possível que tenha existido mestres que tenham tido maior experiência, mas nada escreveram sobre isso, então nada podemos dizer. Ele deixou um grande volume registrando todas as visões e sonhos proféticos que teve. Infelizmente, isso cobre somente dois quintos da sua vida. Khenpo Kunga Wangchuk fez uma cópia e depois publicou-a como a biografia secreta num grande volume. Na linhagem Nyingma do Longchen Nyingtik, é bem sabido que Longchen Rabjam apareceu em visões a Jigmé Lingpa três vezes, durante as quais ele transmitiu-lhe as bençãos do seu corpo, fala e mente. Enquanto que, nos registros escritos que temos, Jamyang Khyentse menciona ter não menos que dezessete visões de Longchen Rabjam – e isso é somente da parte de sua vida que está registrada. Se virem uma lista de todos os mestres e divindades que lhe apareceram e fizeram profecias e tudo mais, dificilmente haverá um mestre ou divindade das tradições Sarma ou Nyingma que não seja mencionado. Se eu os listasse todos, ficaríamos sem tempo.
Para ele, todo o universo de aparência e existência surgia como pureza infinita. Por exemplo, quando ele foi ao topo do Tiger Hill acima de Darjeeling para ver o nascer do Sol, a luz do Sol manifestou-se na forma de Vimalamitra. Quando foi a Bodh Gaya, todos os dias — quando ia até a estátua do Buda — tinha visões nas quais via o Buda Vajradhara no coração do Buda, e o Buda Samantabhadra no coração de Vajradhara. Quando se aproximava do templo de Bodh Gaya, via o Mahakala de quatro-braços preto, que lhe falou diretamente e pediu uma torma. Ele percebeu que não tinha o texto de oferenda de torma, mas disse ao seu mestre de rituais Lodrö Chokden que estaria bem se recitasse o texto do Tantra de Mahakala do Kangyur; então foi o que fizeram. Quando rezou por baixo da árvore bodhi, teve uma visão vívida e clara na qual viu os 1002 Budas desta Era, conjuntamente com os seus séquitos de shravakas e discípulos homens e mulheres. Quando foi à gruta do mahasiddha Shawaripa no campo de cadáveres de Cool Grove, viu Shawaripa diretamente e recebeu a sua mente de sabedoria, de tal modo que todo o seu corpo estremeceu. Nos registros, ele diz que isto foi testemunhado por Gönpo Tseten. Quando perguntei a Gönpo Tseten sobre isto, ele diz que viu Jamyang Khyentse olhando para o espaço e proferindo “Ah!”, ao mesmo tempo que o seu corpo comeceu a tremer, e pensou que seu mestre estava ficando doente.
Infelizmente, não posso falar aprofundadamente sobre a sua biografia secreta e todas as suas visões em detalhe, pois levar-me-ia pelo menos uma semana.

Compilado de palestras no Lerab Ling, em 23 e 24 de agosto, 1996. Originalmente traduzido por Sogyal Rinpoche. Retraduzido e editado por Adam Pearcey, 2005.

Esta é uma tradução rude para o português da tradução Inglesa efetuada por este pequeno praticante do dharma: Ngawang Pema Jigme. Possa este texto beneficiar todos os seres, afastar obstáculos e motivar a prática disciplinada do dharma.

Publicado originalmente na página Sangha, do Facebook. Revisado para o Darma Info no aniversário de Jamyang Khyentse Chökyi Lodrö (25/06/2012), por um aspirante brasileiro. Imagens copiadas da compilação do blog quietamente.

Matthieu Ricard


Matthieu Ricard (França, 1946 ~ ) é um monge budista francês que está na região dos Himalayas há 40 anos.
Estudou com grandes mestres do budismo tibetano, como Kangyur Rinpoche e Dilgo Khyentse Rinpoche.
Também é fotógrafo e autor de diversos livros.
Leia mais:
Livros em português:
Vídeo de palestra:

Patrul Rinpoche



Patrul Rinpoche (Tibete, Kham, 1808 ~ 1887) foi um dos mais elevados mestres do Tibete no século 19. Apesar de levar a vida de um monge renunciante andarilho, sem posses ou residência fixa, lamas eminentes dos grandes monastérios por onde passava faziam questão de se prostar diante dele.
Seu principal mestre foi Jigme Gyalwe Nyugu.
Apesar de estar mais ligado à escola tibetana Nyingma, dominava transmissões de todas as escolas budistas do Tibete — sendo reverenciado por todas — corporificando também um exemplo de não-sectarismo.
Contos de um vagabundo iluminado:
Tzal.org – Histórias sobre Patrul Rinpoche
Livro em português:
“As palavras do meu professor perfeito”
considerada uma escritura essencial por todas as escolas do budismo tibetano
Uma breve biografia de Dza Patrul Rinpoche (1808-1887)
por Alak Zenkar Rinpoche
Dza Palge Tulku ou Dzogchen Patrul Rinpoche nasceu no Ano do Dragão do 14º ciclo do calendário em Getse Dzachukha, na área nômade do norte de Kham, em uma família com o nome de Gyaltok. Ele foi reconhecido por Dodrupchen Jikmé Trinlé Özer como a encarnação de Palgé Samten Phuntsok e recebeu o nome Orgyen Jikmé Chökyi Wangpo.
Em idade precoce, aprendeu a ler e escrever sem qualquer dificuldade. Recebeu ordenação de Khen Sherab Zangpo. Com Dola Jikmé Kalzang, Jikmé Ngotsar, Gyalsé Shenpen Thayé e outros professores, estudou a Trilogia sobre Encontrar Conforto e TranquilidadeO Caminho do Bodisatva, o Tantra da Essência Secreta e muitos outros trabalhos relacionados a sutra e tantra, assim como as ciências comuns. De Shechen Öntrul Thutob Namgyal, recebeu a transmissão oral da Palavra Traduzida do Buda (Kangyur) e ensinamentos sobre gramática sânscrita. Ele recebeu as transmissões completas do Kangyur e Tengyur, junto com os escritos excelentes do pai e filho oniscientes [1] da tradição Nyingma, assim como trabalhos de Sakya Pandita, do Soberano Tsongkhpa e muitos outros grandes mestres das escolas de tradução antiga e novas. Ao estudar e refletir sobre elas com diligência e persistência, sem nenhuma inclinação sectária, ele alcançou um nível perfeito de erudição.
Ele não apenas recebeu instrução sobre as preliminares Longchen Nyingtik cerca de 25 vezes de Jikmé Gyalwé Nyugu, mas completou as práticas requeridas o mesmo número de vezes [2]. Além disso, recebeu instrução sobre as práticas de tsa-lung e Dzogchen e estudou muitos dos ciclos de prática encontrados nas escrituras canônicas (kama) da escola Nyingma. Do Khyentse Yeshe Dorje introduziu-o diretamente ao estado desperto puro de rigpa ao exibir um comportamento selvagem e excêntrico.
Ele treinou por um longo tempo nas práticas tsa-lung Longchen Nyingtik e recebeu imensas quantidades do Darma que é como néctar de Dzogchen Rinpoche Mingyur Namkhé Dorje e outros mestres.
Ao permanecer longos períodos perto do Monastério Dzogchen nos eremitérios isolados de Rudam, como as cavernas Yamantaka e a da Longa Vida, ele colocou toda sua energia na prática de meditação e atingiu uma realização tão vasta quanto o espaço.
A partir da idade de 30, viajou para Serthar, Yarlung Pemakö e outros lugares, ensinando extensivamente o Tantra da Essência Secreta para reuniões de vidyadharas afortunados. Para assembleias em Serthar e nas regiões superiores e inferiores do vale Do, ele concedeu incontáveis presentes do Darma, ensinando O Caminho do BodisatvaMani KabumPrece de Aspiração de Sukhavati e outros. Ele colocou fim aos roubos e à bandidagem, e aboliu o costume de servir carne nas reuniões especiais.
Ele foi para Dzamthang e estudou as seis iogas com Tsangpa Ngawang Chöjor, e foi para Minyak, onde teve discussões extensas com Dra Geshe Tsultrim Namgyal sobre o prajnaparamita e outros tópicos. Desse modo, seguiu como um renunciante, tendo abandonado todas as preocupações mundanas; trabalhou imparcialmente pelo bem dos outros, sem qualquer agenda ou itinerário fixos.
Na faculdade Shri Singha do Monastério Dzogchen, em Pemé Thang e outros locais, Patrul girou a roda do Darma ininterruptamente, ensinando os tratados de Maitreya, do Caminho do Meio, Abhidharma, Tantra da Essência SecretaTesouro de Qualidades PreciosasReforço dos Três Votos e outros tópicos. Em particular, quando ensinou O Caminho do Bodisatva nas vizinhanças do Dzogchen Shri Singha por vários anos seguidos, um grande número de flores chamadas Serchen, com cerca de 30 e 50 pétalas, desabrocharam todas de uma vez, ficando conhecidas como “flores bodhicharyavatara”.
Quando o tertön Chokgyur Dechen Lingpa retirou o terma Demchok Sangye Nyamjor de Rudam Kangtrö, o eremitério das neves em Dzogchen, ele designou Patrul Rinpoche como o detentor desse e de outros ciclos, incluindo A Essência do Coração das Três Famílias (Riksum Nyingtik), e ofereceu a ele todas as iniciações, transmissões orais e instruções necessárias.
Ele foi para Kathok Dorje Den, onde ofereceu prostrações e circumambulou os relicários dos três grandes mestres Dampa Deshek, Tsangtön Dorje e Jampa Bum. Após o pedido de Situ Choktrul Chökyi Lodrö e outros, deu explicações extensas sobre O Caminho do Bodisatva para toda a assembleia de monges. Foi até os monastérios principais da tradição Riwo Gendenpa como Sershul, Labtridu, Chuhor e outros, ensinando elaboradamente O Caminho do Bodisatva e outros tópicos. Como ele instruía de modo claro e sucinto, relacionando tudo aos pontos-chaves da prática, mesmo detentores do título Geshe Lharampa espalhavam flores de homenagem e se curvavam a ele em devoção.
Patrul Rinpoche estabeleceu um centro de ensinamentos na vizinhança do Monastério Dzagyal. Ao reparar o grande conjunto de paredes de pedras “mani” (do-bum), construído por sua encarnação anterior Palge Samten Phuntsok, a obra se tornou extraordinariamente bela e até maior e mais alta que antes, mais tarde sendo conhecida como Patrul Dobum.
Esse grande mestre devotou toda sua vida a estudar, contemplar e meditar — para seu próprio benefício — e ensinar, debater e compor — para o benefício dos outros. Ao fazer isso, ajudou a fazer do ensino e estudo de textos como O Caminho do Bodisatva, os tratados de Maitreya, os Três Conjuntos de Votos e o Tesouro de Qualidades Preciosas algo tão difundido quanto as próprias pedras e terra das regiões superioes, centrais e inferiores do Tibete Oriental. Em particular, quando a tradição de ensinar o Tantra da Essência Secreta e as tradições da orientação experiencial e das práticas tsa-lung do Longchen Nyingtik estavam já como lâmpadas com pouco combustível, através de sua grande bondade, ele as reviveu e as deixou mais fortes e difundidas até do que antes.
Os discípulos principais desse grande mestre, que fez tanto para preservar e espalhar os ensinamentos da essência vajra da clara luz, incluem mestres eruditos e realizados da escola Nyingma como Kathok Situ Choktrul Chökyi Lodrö, o 5º Dzogchen Rinpoche Thubten Chökyi Dorje, Gyarong Namtrul Kunzang Thekchok Dorje, e 2º e o 3º Dodrupchens, Jikme Phuntsok Jungne e Jikmé Tenpe Nyima, Dechen Rigpé Raldri, que era o filho de Do Khyentse Yeshe Dorje, a suprema encarnação Shenpen Chökyi Nangwa [ou seja, Khenpo Shenga], Adzom Druktrul Droddul Dorje, Tertön Lerab Lingpa, Jun Mipham Namgyal, Khenchen Pema Damchö Özer [também conhecido como Khenpo Pema Vajra], Nyosul Lungtok, Alak Dongak Gyatso e outros. Além disso, seus discípulos incluem muitos grandes mestres e detentores de ensinamentos Sakya, Gelugpa e Kagyü, como Sershul Lharampa Thubten, Palpung Lama Tashi Özer e Ju Lama Drakpa Gyaltsen.
Finalmente, no 18º dia do Saga Dawa do ano do Porco de Fogo do 15º ciclo do calendário, ele exibiu os sinais da dissolução de seu corpo no espaço que tudo permeia da realidade.
Patrul Rinpoche compôs incontáveis trabalhos que se adequavam às mentes individuais de seus discípulos e preencheu as aspirações deles. Embora eles prezassem essas obras, mantendo-as com eles, elas não foram compiladas pelo próprio mestre ou por seus atendentes; assim, muitas delas jamais foram gravadas em blocos de impressão. Os trabalhos que foram gravados e hoje podem ser encontrados, como néctar com o qual podemos deleitar nossos olhos, abrangem volumes em número igual às seis paramitas. Entre essas composições, encontramos todo tipo de trabalho, incluindo comentários e delineamentos de estrutura (sa bcad) para os tratados de Maitreya, O Caminho do BodisatvaTesouro de Qualidades Preciosas e outros textos, assim como As Palavras de Meu Professor Perfeito, coletâneas de aconselhamento e escritos diversos, incluindo O Drama no Jardim de Lótus, coletâneas de louvores e tudo mais. Em tudo que escreveu, ele nunca entrou em detalhes excessivos simplesmente para exibir seu conhecimento, mas explicava as coisas conforme a capacidade dos alunos.
O caráter extraordinário e especial de seus ensinamentos foi descrito por Dodrupchen Jikmé Tenpé Nyima em sua biografia de Patrul:
“Se analisados pelos sábios, são muito significativos. Se ouvidos pelos menos inteligentes, são fáceis de compreender. Ao condensarem os pontos vitais, são fáceis de lembrar. Exatamente do tamanho certo, tudo é coerente e conectado do começo ao fim. São prazerosos ao ouvido, e quaisquer que sejam as palavras usadas, duras ou gentis, se mesclam em “um só sabor” com as instruções e, assim, cativam as mentes de todos, tanto sábios quanto confusos, e os que estão entre esses dois”.
Escrito por Thubten Nyima.
Traduzido [do tibetano para inglês] por Adam Pearcey e Patrick Gaffney em 2006 (Brief Biography of Patrul Rinpoche | Lotsawa House).
Traduzido do inglês para português por um praticante brasileiro relapso, no aniversário de Patrul Rinpoche: 07/06/2012.
[1] Longchen Rabjam e Jikmé Lingpa.
[2] Em outras palavras, ele completou cerca de 2,5 milhões de prostrações e o mesmo número de mantras de cem sílabas, oferendas de mandala e repetições da Prece de Sete Linhas. Poucos mestres na história do Tibete realizaram tal feito. Duas notáveis exceções foram o grande Je Tsongkhapa, que famosamente completou 3,5 milhões de prostrações e cerca de dez milhões de oferendas de mandala; e, em tempos mais recentes, o mestre Sakya, Gatön Ngawang Lekpa, que acumulou um vasto número de prostrações e outras práticas durante seu retiro estrito de 15 anos.

Prece para a longa vida de S.S. Dalai Lama

(este texto contém caracteres tibetanos. Tradução literal, para interessados na língua tibetana)
༄༅། །གངས་རིའི་རྭ་བས་བསྐོར་བའི་ཞིང་ཁམས་འདིར།
gang ri / rawe korwe / shing k’am dir
(por) montanhas de neve / cercada e rodeada / aqui nesta terra pura
།ཕན་དང་བདེ་བ་མ་ལུས་འབྱུང་བའི་གནས།
p’en dang dewa / malü / djung we ne
benefícios e êxtases / sem exceção / (tu és) a fonte de onde surgem
།སྤྱན་རས་གཟིགས་དབང་བསྟན་འཛིན་རྒྱ་མཚོ་ཡི།
tchenrezig wang / tendzin gyat’so yi
Avalokiteshvara / oceânico detentor dos ensinamentos (Tendzin Gyatso)
།ཞབས་པད་སྲིད་མཐའི་བར་དུ་བརྟན་གྱུར་ཅིག།
shab ped / si t’e bardu / ten gyur tchig
(que seus) pés de lótus / até a encarnação final / permaneçam firmes

Prece mais comum para a longa vida de S.S. Dalai Lama. É um trecho de uma oração composta no século 18 por Pholhané Sonam Tobgyal para o 7º Dalai Lama, Kalzang Gyatso, tendo sido adaptada e utilizada dessa forma desde então. Publicado no aniversário de 77 anos de Sua Santidade (2012-07-06).

Referências sobre budismo tibetano

Seguem abaixo links e referências que podem ser úteis para quem estiver procurando mais informações sobre budismo tibetano.

Links úteis

  • Dalai Lama — Site oficial
  • Makara — Editora de livros sobre budismo tibetano
  • Arquivos Berzin — Um dos sites mais ricos em conteúdo sobre budismo tibetano
  • Lotsawa House — Seção em português de site com traduções de escrituras tibetanas
  • Tzal.org — Artigos e traduções

Outros blogs

Livros

Além de ótimas introduções ao budismo tibetano, as obras indicadas abaixo também são referências abrangentes e completas — fora o fato de seus autores serem mestres espirituais  realizados.

O Livro Tibetano do Viver e do Morrer

Sogyal Rinpoche
Alguns trechos contidos neste blog:

Portões da Prática Budista

Chagdud Tulku Rinpoche


Yongey Mingyur Rinpoche



Yongey Mingyur Rinpoche (Nepal, 1975 ~ )
Yongey Mingyur Rinpoche (Nepal, 1975 ~ ) é atualmente um dos mais respeitados mestres de meditação do budismo tibetano. Além de um eminente lama da linhagem Karma Kagyu, como filho de Tulku Urgyen Rinpoche, é descendente do terton Chokgyur Lingpa (linhagem Nyingma).
Seus principais mestres foram Tulku Urgyen Rinpoche, Saljey Rinpoche, Nyoshul Khen Rinpoche e Tai Situ Rinpoche.
Também é conhecido pelo interesse ativo em neurociência e psicologia, sendo um dos mestres budistas que faz a ponte entre a meditação clássica e a ciência moderna.
Em junho de 2011, em Bodhgaya (Índia), Mingyur Rinpoche começou um retiro solitário no estilo dos antigos iogues andarilhos renunciantes da Índia e Tibete, que meditavam em cavernas e locais sagrados, alternando de um lugar para outro, levando o mínimo de pertences.

Links

Livro em português

Material em inglês

Fonte:http://darma.info/budismo/escolas-budistas/budismo-tibetano/

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