O ÍCONE - UMA ESCOLA DO OLHAR - JEAN-YVES LELOUP






SINOPSE:
A tarefa do autor é mostrar que, ao lado das leituras estéticas, teológicas,litúrgicas, tradicionais, uma leitura antropológica é possível. Tais "leituras de ícones" têm como objetivo não somente fazer com que conheçamos melhor as tradições nas quais eles foram concebidos, mas também nos iniciar na prática visionária que os inspirou, permitindo-nos verificar os elementos dos quais o ícone é composto: as cores e as formas que o estruturam, e as razões que explicam seu poder inspirador.
ORELHAS:
Os ícones apresentados neste livro aparecem ao público pela primeira vez; eles pertencem a uma coleção privada. De origem russa, foram pintados entre os séculos XIV e XIX. Para garantir a este livro o caráter de obra de referência, acrescentamos àqueles alguns ícones mais conhecidos, bem como referências à arte ocidental. Jean-Yves Leloup está de volta ao público brasileiro. O autor já não é mais um desconhecido entre nós. Várias obras suas já têm alcançado repercussão e, como parece inevitável no universo de Leloup, suscitado apreciações muito distintas. Não se pode ficar indiferente ao inusitado texto deste filósofo, psicólogo e teólogo que já foi ateu, monge dominicano e hoje é padre ortodoxo. Algo do debate mencionado neste livro, que separou iconoclastas e iconógrafos, pode ser dito do pensamento de Jean-Yves. Graças a sua "itinerrância" - o termo é dele - em busca do sentido da existência, seus textos despertam a curiosidade - e a desconfiança - de muitos ocidentais por proporem uma nova síntese entre a tradição e a modernidade. Certamente o estranhamento seria menor se mais conhecêssemos da tradição cristã a que Leloup se filia e que este livro sintetiza de forma magistral. Para os cristãos do Oriente, a teologia é a contemplação silenciosa, no Espírito, de Cristo diante do Pai. O ícone é caminho seguro no processo de divinização ( theosis) do ser humano, pois é "a imagem do Deus que se encarnou, mostrou-se na carne sobre a terra, misturou-se aos homens em sua inefável bondade e assumiu a natureza, a densidade, a forma e as cores da carne" (são João Damasceno). O auge dessa espiritualidade é o hesicasmo, escola oriental que se propõe a alcançar a paz por meio da interiorização e da oração do coração. Para o contemplativo oriental, lembra-nos Leloup, todo semblante pode ser olhado como um ícone. O Outro vem, por esse modo, aos nossos olhos. E ao ser atingido por nosso olhar, revela-nos o mais profundo de nós mesmos. Em conseqüência, o cristianismo nada tem a ver com renúncia ou recalque, mas é caminho de transformação e de metamorfose. Toda a criação é boa, "tudo é puro para aquele que é puro". É nosso olhar que desfigura ou transfigura todas as coisas... Na escola do olhar, aprendemos que o olhar idólatra verte o que vê em objeto de poder; o olhar pornográfico não dá margem ao mistério do outro e tudo expõe em praça pública. Só o olhar icônico educa-nos à contemplação, a nos deixarmos ver pelo outro e a ver nele a essência do que somos todos. O ícone, tal como Leloup o descreve neste livro, é um mundo intermediário: ele é constituído pelo Amor que vem da fonte da luz voltada para o mundo, bem como do amor do mundo voltado para a fonte da luz. Ele é um local de encontro e de relação onde se pode desvelar um pouco deste segredo: Deus, por dentro, é Amor. (Afonso M. L. Soares - Teólogo e cientista da religião - PUC-SP)
4a CAPA:
Da mesma maneira que existem várias formas de olhar o mundo, há várias formas de "ler" e de interpretar um ícone. As "leituras de ícones" propostas neste livro têm por objetivo mostrar-nos as tradições nas quais foram concebidos e, também, iniciar-nos na prática visionária que os inspirou, permitir que integremos, no tecido de nossa existência, os elementos dos quais são compostos: as cores e as formas que os estruturam, a Presença discreta e forte da qual eles são a evocação eficaz... O ícone é uma escola do olhar, e nisto ele se opõe ao ídolo. O ídolo captura o olhar, que não pode ir além da representação proposta. O ícone, ao contrário, não se fecha no visível, mas abre os olhos ao invisível. O ídolo nos cega, o ícone nos faz ver. O ícone nos introduz em um mundo que não é o da matéria, nem o do Espírito, mas um mundo composto sem a fusão dessas duas dimensões do real. Ele não narra uma história (a dos diferentes momentos da vida do Cristo e dos santos), ele não é um quadro de tema religioso: é uma visão do mundo transfigurado. O ícone é um anjo! Mais que uma mensagem, é um mensageiro.
Sobre o Autor:
Jean- Yves Leloup, doutor em Psicologia, Filosofia e Teologia, ensina na Europa, nos Estados Unidos e na América Latina. É autor de várias obras, entre as quais o livro JEAN-YVES LELOUP - Se minha casa pegasse fogo, eu salvaria o fogo, publicado pela Editora UNESP (pertencente à Coleção Nomes de Deuses). Traduziu e comentou os evangelhos de João, de Tomé e de Miriam de Magdala, bem como outros evangelhos descobertos recentemente em Nag Hammadi, no Alto Egito.
ISBN: 8571396493
Formato: 20 X 27cm
Páginas: 160
Edição: 1ª
Ano: 2006
Acabamento: Brochura


Ainda sobre esta obra:

Ícone, olhar em busca do sagrado - Jean-Yves Leloup analisa imagens da tradição religiosa russa como elo entre o visível e o divino.
Para mergulhar nas profundezas do estudo O ícone: uma escola do olhar, do francês Jean-Yves Leloup, lançado pela Editora UNESP, dentro das celebrações dos 30 anos da Universidade, é preciso lembrar que, para o ex-dominicano e atual padre ortodoxo, ícone é muito mais do que uma “imagem”, no sentido em que ela é concebida na tradição ocidental.
Doutor em Filosofia, Psicologia e Teologia, Leloup esteve em São Paulo, em abril, proferindo três conferências, duas no Auditório do MASP e uma no Tuca da PUC-SP. Ele retoma o sentido grego do termo ícone, buscando as raízes da palavra ikon e do verbo eiko, ou seja, “retroceder”, no sentido de que a imagem que vemos desaparece perante o sagrado que está nela representado.
Para o intelectual francês, os conceitos de ídolo e ícone se afastam justamente porque, enquanto o primeiro, como ocorre na mídia globalizada, reafirma a presença de um pop star, por exemplo, o segundo “não passa do sinal visível de um Invisível”. Assim, o ícone é interpretado como “um local de encontro e de relação onde se pode desvelar um pouco do segredo do ‘Ser que É o que Ele É’”, tradução em hebraico para o impronunciável nome de Deus, representado pelo tetragrama YHWH.
O livro reúne imagens de ícones russos. Pintados entre os séculos XIV e XIX, pertencem a uma coleção privada e são mostrados pela primeira vez na publicação. O conjunto é utilizado por Leloup para defender a sua tese de que o ícone não pretende representar o real, mas significá-lo e simbolizá-lo. Desse modo, o ser representado permanece inacessível e invisível em sua essência divina.
Janela para o invisível
O ícone é, assim, visto sempre como uma evocação do divino, nunca como a descrição de um ser. O grande segredo do ícone está em ser uma janela ou porta para além do que se vê. Se o mencionado ídolo se esgota, enquanto imagem, em si mesmo, o ícone remete ao invisível que está no visível e à presença na aparência.
Nessa linha de raciocínio, a visão de um ícone é uma escola do olhar, pois exige essa predisposição e consciência de que o mais importante a ser visto no mundo não é o que facilmente se enxerga, mas aquilo que só se captura com a mente e alma abertas. Para isso, um ícone russo comporta inúmeras leituras, como as estéticas, teológicas, litúrgicas e antropológicas.
O objetivo de Leloup é, a partir dos ícones russos reproduzidos no livro, interpretar essa imagem como um mensageiro que simboliza e transfigura aquilo que mostra. Isso a torna mais do que um quadro de tema religioso. A inteligência e o coração do observador é que fazem o invisível revelado pelo ícone aparecer em sua plenitude.
A ausência carnal, para Leloup, torna-se presença espiritual. Assim, por meio do ícone, o tempo se torna eterno e o sem-forma ganha forma. Abre-se, portanto, a possibilidade de interpretação do ícone como obra de arte e como um objeto presente nas práticas litúrgicas, domésticas, terapêuticas e teológicas.
Mudanças nas imagens
Leloup começa o estudo pela análise dos achéiropoietes (“não feito pela mão do homem”), ou seja, representações apenas do rosto de Cristo, que evocam a cena do Novo Testamento em que Verônica (verdadeiro ícone, vera ikona) enxuga o semblante de Cristo a caminho do Gólgota com um pano, que conserva os traços da beleza e do sofrimento do filho de Deus.
Progressivamente, o teólogo francês verifica como o rosto de Jesus ganha pescoço e ombros até chegar a ser Pantocreator (“criador de tudo” ou “Cristo em majestade”, em latim), aparecendo com a mão que abençoa e o livro aberto. O vermelho indica a realeza e o verde ou azul, a humanidade. Essa fusão é simbolizada pelos dois dedos que se tocam, enquanto os outros três, também unidos, simbolizam a Trindade inseparável (Pai, Filho e Espírito Santo).
Especificamente sobre a vida de Cristo, Leloup identifica as representações (“festas”) celebradas pela igreja católica: Natividade de Maria, Apresentação dela ao Templo, Anunciação, Natividade de Cristo, Apresentação dele ao Templo, Batismo, Transfiguração (quando os discípulos vêem o homem como a presença de Deus), Entrada em Jerusalém, Crucificação, Exaltação da Cruz, Ressurreição (que inclui o encontro com Miriam e a dúvida de Tomé), Descida aos Infernos e Dormição (morte de Maria na tradição ortodoxa) ou Assunção (ascensão de Maria aos céus estabelecida pelo papa Pio XII, em 1950).
Os ícones conhecidos como Theotokos (“Mãe de Deus”) mostram Maria (com cabelos, parte superior da fronte e ombros escondidos por véu bordado) com o seu Filho. Leloup aponta quatro matrizes fundamentais na tradição ortodoxa de representar essa Mãe: sentada no trono, orando, mostrando o Caminho (com as mãos abertas, sinal da capacidade humana de oferecer e dar) e Misericordiosa (demonstração de ternura ao Filho, com os rostos colados).
Profetas e santos
Ícones de profetas, como Moisés e Elias, e de São João Batista, assim como de Pedro e Mateus, são analisados. Merece destaque o breve estudo sobre um ícone de São Nicolau do século XIX, que inclui o seu nascimento, educação, ordenação como diácono e bispo, aparição em sonho ao imperador Constantino, milagre de ressurreição de um afogado, morte do santo e o traslado de suas relíquias.
As lutas de São Jorge contra o dragão são interpretadas como a vitória da coragem e da fé sobre o medo. A força da espada ou da lança estaria no discernimento de se valer da luz divina para libertar a alma (princesa) trancada na escuridão (torre) da angústia.
Os semblantes dos santos da iconografia russa geralmente impressionam pela beleza e serenidade. São, para Leloup, justamente a imagem do “homem que deve vir, transfigurado pela paz”.
Temas como o Pentecostes e a Trindade também são enfocados no livro. Em relação ao primeiro, é enfatizada a reunião dos doze apóstolos e a presença do Divino Espírito Santo. Quanto à segunda, para o teólogo, “Deus é Uno como o Amante, a Amada e o Amor são Um”. Portanto, a simbologia desse ícone inclui representações como a de três anjos ou três visitantes acolhidos por Abraão e Sara, geralmente com uma representação da Árvore da Vida, que une, pela verticalidade, o alto ao baixo e a matéria à luz.
Autêntica aula para interpretar os ícones produzidos por artistas russos, a obra de Leloup é um caminho para a compreensão da espiritualidade desse povo, já que as imagens eram colocadas fora do tempo e do espaço terrestres, trabalhando na esfera do tempo indefinido e do espaço ilimitado, aquele onde tanto a arte como a espiritualidade encontram uma fértil morada.

Oscar D'Ambrosio


Fonte:http://www.ecclesia.com.br/e-books/produtos_descricao.asp

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