CARTA DE AMOR - ASSIRIA





Quisera eu escrever uma carta de Amor.
Quisera eu, com estas minhas mãos escrever uma carta de amor. Uma carta de amor  imprudente e cheia. Cheia de sentimentos. Cheia dessas promessas, desenhadas no refúgio, que acumulas nos teus olhos, a partir do romper do dia.

Chamas-lhe «saudade». Saudade esconsa, contrafeita na demora dos teus pensamentos, aparentemente indiferentes ao amanhecer dançante, da meia dúzia de horas, que secam dentro dos teus olhos.

Diz-me. Diz-me, o que sentes quando esses pensamentos são palavras que se soltam dentro da tua boca, como aroma a Flor do Oriente?

Quem me dera sentir-te. Quem me dera sentir-te, e, descobrir-te sentado numa cadeira, ao fundo, de costas junto à parede, ladeado de retratos nossos, tirados talvez, quem sabe, há uns nove anos atrás.

Nesse espaço de tempo, teu rosto era curiosamente retirado das memórias junto aos lugares, onde estivemos. Muito provavelmente aventurados na tarde, aos beijos, acabados de fazer amor. 

Aconteces-me nestas recordações, sobrevoando as minhas mãos, na inquietude quieta da noite. Aconteces-me sem que, ao longo do tempo, me tenhas carregado ao colo para me levares para a cama!...

Aconteces-me do outro lado da dor, consentida, reconhecida, restabelecida neste lugar, submergida e guardada em ti!

Quisera eu fazer uma carta de amor. Mas não fiz..! Para quê?




Há qualquer coisa muito para lá de uma carta de amor!Há o «sentir do fundo» de uma distância igual a cerca de metade do tamanho da tua sede incisiva nos dias, linfa pura e natural, como se um rio morasse na tua boca.Há a descoberta confessada na inspiração sensorial do grito, amplexo de um instante, sucedendo-se no linde da procura.
Há a descoberta, na multiplicidade dos braços insistentemente agitados, transportando-nos distintamente na estrutura do corpo. Mais ainda, quando a boca está situada a meio do rosto, interage-se mais rapidamente o grito, e a boca, dedica-se inteiramente à sua função como «cargo nobre maxilar»!  
E, esta descoberta é o sonho. É o sonho, e não uma carta de Amor!É o sonho gemido. Recordação intermédia desenhada no contorno do coração. Recordação da profusão pré-nupcial de mil-sois em sítios quentes, fervor provocador dos dois quartos da maçã suculenta, que dá fome ao beijo.
Há o tempo, a noite e o dia. Há o reino dos sonhos e das sombras, há o rumor dos ruídos no silêncio da noite. E, a face da noite, é sempre o outro lado do rio, ciclicamente ponderado, escondido na ignorância da lua que procura a estrela cadente no encarar de cada solitária e solidária manhã.
É na noite, que me aconteces. Aconteces-me, dentro das tuas ânsias, que se enlaçam nas minhas. Aconteces-me, como a luz no Éter dum bailado azulado.
Aconteces-me, em laços de doçura como se, sobrevoássemos as margens de um rio: "margem direita" e "margem esquerda", onde nos encontramos e nos movemos no sentido da corrente. 
É na noite que me aconteces meu amor. E, na noite escreve-se muito, e muito, muito mais docemente…



Assiria

Fonte:http://soprodevidasemmargens.blogspot.com.br/

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