A ARTE MEDIEVAL : A PINTURA ROMÂNTICA

 
Pintura a fresco da Abadia de Lavaudieu, França
A pintura românica não foi de todo um inovador desenvolvimento nas artes pois utilizou as bases da pintura paleocristã, carolíngia e otoniana, no mosaico parietal de tradição helenístico-romana e bizantino e ainda na pintura de livros sagrados (códices) e de ícones;
- Dividiu-se em duas tipologias:
  • a pintura parietal, mural ou de grandes dimensões, constituída por frescos e retábulos (pintura sobre madeira) e que decorava os interiores arquitectónicos das igrejas (onde predominava uma brilhante e rica policromia) - estas pinturas tal como as esculturas exerciam um forte papel doutrinal e pedagógico, pois através de simples imagens, contavam aos fiéis a história sagrada e contribuíram ainda para o misticismo que se procurava atribuir à casa de Deus, criando um ambiente de encantamento e surpresa, propicio à reflexão e exaltação religiosa e à transcendência dos factos sobrenaturais, nos quais a Igreja pretendia que os fiéis reflectissem e neles vivessem;
  • a pequena pintura ou pintura de pequenas dimensões, constituída por miniaturas e iluminuras.
- A pintura mural românica possuía uma temática predominantemente religiosa, cujos principais temas eram ligados a Cristo, tornado Pantocrator (Todo-Poderoso), cenas narrativas do Velho e Novo Testamento (com preferência pela Fuga para o Egipto, a Matança dos Inocentes, a Natividade e a Paixão de Cristo) e ainda episódios das vidas de santos e visões apocalípticas;
 




"A Anunciação", fresco da Igreja de St. John, Áustria


 


- As técnicas formais e estilísticas empregues variam de região para região, sendo impossível distinguir autores, mas sim escolas ou oficinas; o seu trabalho era geralmente colectivo e a aprendizagem era feita nos scriptoria dos conventos e catedrais; não existia espaço para criatividade e inovação por parte dos artesãos pois os trabalhos estavam limitados à escolha e ideias do patrono ou encomendador, o que justifica a uniformidade temática das obras deste tempo;
- Apesar disto é possível identificar traços comuns, tanto formais como técnicos, em toda a pintura românica que ajudam a caracterizar a mesma: prevalência do desenho sobre a cor; falta de proporção e rigor anatómico nas figuras, devido à tendência para a esquematização e estilização das mesmas; posições formalizadas e desarticuladas; aplicação da cor a cheio, sem sombreados ou matizados; bidimensionalidade (ausência de perspectiva); composições organizadas segundo esquemas geométricos complexos onde predominam os rectângulos e os círculos, com um grande sentido rítmico dado pela repetição, na horizontal, das figuras; utilização de elementos arquitectónicos, que serviam de enquadramento cénico à obra; disposição das cenas em bandas ou faixas, organizadas da esquerda para a direita e de cima para baixo, ajustadas para caberem nos suportes arquitectónicos e separadas por frisos com motivos geométricos ou naturalistas, de influência romana e germânica;


Fresco da Igreja de S. Angelo in Formis, em Monte Cassino, séc. XI


Pinturas a fresco da Abadia de Payerne, séc. XII, Suíça



- Entre outras diferenças de região para região, a que mais se destaca é o tratamento da cor: no Oeste francês foi notória a influência germânica marcada por frescos policromos, com fundos claros e tonalidades brilhantes; em Itália era evidenciada a infuência bizantina, pelos fundos escuros e cores fortes; em Espanha foram usadas cores intensas com brilhos metálicos, de influência árabe;

"Cristo Pantocrator", fresco da abside da Igreja de São Clemente, Barcelona, Espanha


Pintura a fresco da abobada da abside da Igreja de Santa María de Tahull, Espanha



"A Paixão de Cristo", pormenor da pintura mural do tecto da Igreja de San Justo y Pastor de Segovia, Espanha


Pintura mural da Igreja de San Isidoro de Léon, Espanha


Helena de Constantinopla representada num fresco da basílica de San Lorenzo Naggiore, Itália, séc. XII


Frescos da Igreja de Saint-Savin, França



Frescos da Igreja de St-Jacques-des-Guérets, França



- A pintura sobre madeira foi menos frequente mas igualmente significativa e era usada sobretudo para a decoração dos frontais de altar, embora também fosse utilizada para decorar a estatuária em madeira, as armações de tectos e artesoados; possuía em grande parte a mesma temática e representação formal dos frescos;
"Nossa Senhora e o Menino", pormenor central do frontal de altar do altar-mor da Igreja do Mosteiro de Santa Margarida, Espanha, séc. XII





- A pintura sobre os livros sagrados (códices) era uma arte já existente na Europa do século XI, tendo os seus princípios ligados à arte paleocristã. Desenvolveu-se no início da Idade Média, mantendo-se ligada à tradição monástica, porque era nos scriptoria das catedrais e mosteiros que se copiavam os livros manuscritos (Bíblias, manuais litúrgicos, vidas de santos, crónicas históricas, tratados filosóficos, entre outros), produtos raros e preciosos, que apenas podiam ser apreciados por uma pequena clientela de eruditos, numa época em que grande parte da população era analfabeta. Eram os próprios monges copistas que ilustravam essas obras, com desenhos onde se misturavam pessoas, animais, elementos vegetalistas e formas geométricas, de modo largamente fantasioso - as iluminuras, pinturas que tanto ocupavam páginas inteiras com cenas narrativas ou descritivas retiradas dos textos que os livros continham como podiam ser reduzidas à decoração das letras iniciais dos capítulos ou parágrafos (iniciais ornadas ou capitulares). Estas pinturas primavam pela fantasia dos coloridos e pelo sentido de ritmo e movimento das suas composições, chegando a ser mais diversificadas e criativas que as dos frescos e a servir de inspiração aos mesmos.

Iluminura do "Apocalipse do Lorvão"


 
"Maria e o Menino Jesus", ilustração de uma das páginas do Livro de Kells, séc. XI

Iluminura do Envangelho de Grimbald, séc. XI
  


Iluminuras do Códice de Hildegardis


Ilustração de uma das páginas do livro "As Grandes Crónicas de França"


"Maria Madalena anuncia a ressureição de Jesus aos Apóstolos", iluminura do saltério de São Albano


"São João Evangelista" representado numa das páginas do Evangelário do Abade Wedricus


Inicial ornamentada de uma das páginas da Bíblia de Winchester


Capitulares de uma das páginas do Livro de Kells, séc XI


Capitular de uma página do Códice de Bruchsal
 
 
Fonte:
http://umolharsobreomundodasartes.blogspot.com.br/


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