CANTO GREGORIANO-O CANTO COMO ORAÇÃO





O canto gregoriano é um gênero de música vocal monofônica, monódica (só uma melodia), não acompanhada, ou acompanhada apenas pela repetição da voz principal com o organum, com o ritmo livre e não medido, utilizada pelo ritual da liturgia católica romana, a idéia central do cantochão ocidental.
As características foram herdadas dos salmos judaicos, assim como dos modos (ou escalas, mais modernamente) gregos, que no século VI foram selecionados e adaptados por Gregório Magno para serem utilizados nas celebrações religiosas da Igreja Católica.
Somente este tipo de prática musical podia ser utilizada na liturgia ou outros ofícios católicos. Só nos finais da Idade Média é que a polifonia (harmonia obtida com mais de uma linha melódica em contraponto) começa a ser introduzida nos ofícios da cristandade de então, e a coexistir com a prática do canto gregoriano.
Desde seu surgimento que a música cristã foi uma oração cantada, que devia realizar-se não de forma puramente material, mas com devoção ou, como dizia Paulo (Apóstolo): "cantando a Deus em vosso coração". O texto era, pois, a razão de ser do Canto Gregoriano. Na verdade, o canto do texto se baseia no princípio - segundo Santo Agostinho - de que "quem canta ora duas vezes”.
O canto Gregoriano jamais poderá ser entendido sem o texto, o qual tem primazia sobre a melodia, e é quem dá sentido a esta. Por isso, ao interpretá-lo, os cantores devem haver compreendido bem o sentido dele. Em conseqüência, deve-se evitar qualquer impostação de voz de tipo operístico, em que se busca o destaque do intérprete.
Deste canto procedem os modos gregorianos, que dão base à música ocidental. Deles vêm os modos maior (jônio) e menor (eólico), e outros cinco, menos conhecidos (dórico, frígio, lídio, mixolídio e lócrio).
O canto gregoriano é a mais antiga manifestação musical do Ocidente e tem suas raízes nos cantos das antigas sinagogas, desde os tempos de Jesus Cristo. Os primeiros cristãos e discípulos de Cristo foram judeus convertidos que, perseverantes na oração, continuaram a cantar os salmos e cânticos do Antigo Testamento como estavam acostumados, embora com outro sentido. à medida que os não judeus gregos e romanos foram também se tornando cristãos, elementos da música e da cultura greco-franco-romana foram sendo acrescentados às canções judaicas.

O período de formação do canto gregoriano vai dos séculos I ao VI, atingindo o seu auge nos séculos VII e VIII, quando foram feitas as mais lindas composições e, finalmente, nos séculos IX, X e XI, princípio da Idade Média; começa, então, sua decadência. Seu nome é uma homenagem ao papa Gregório Magno (540-604) que fez uma coletânea de peças, publicando-as em dois livros: o Antifonário, conjunto de melodias referentes às Horas Canônicas, e o Gradual Romano, contendo os cantos da Santa Missa. Ele também iniciou a "Schola Cantorum" que deu grande desenvolvimento ao canto gregoriano.

A partir da iniciativa de dom Mocquereau, no final do século XIX, o Mosteiro de São Pedro de Solesmes, na França, passou a ser o grande centro de estudos e prática do canto gregoriano. Seus monges, na época, deram início a um trabalho de paleografia (estudo dos manuscritos antigos) de canto gregoriano e de recuperação dos sinais escritos nos séculos VIII e IX.

Depois, surge a semiologia gregoriana, que é a interpretação dos sinais, com uma volta à fonte, estabelecendo uma interpretação mais autêntica do canto gregoriano; entre outros sobressai nesse trabalho dom Eugène Cardine, OSB.

No começo do século XX, o papa Pio X pede aos monges beneditinos para fazerem uma edição moderna à luz dos manuscritos, surgindo então a Edição Vaticana e em 1985 foi lançada uma outra edição chamada "Graduale Triplex" (Gradual Tríplice) com as três notações do canto gregoriano: a Vaticana, a de Laon (França) e a de Saint Gaal (Suíça).

Após a realização do Concílio Vaticano II (1965), o latim deixou de ser a língua oficial na liturgia da Igreja, e as celebrações litúrgicas passaram a ser realizadas na língua vernácula de cada país e a prática do canto gregoriano ficou restrita aos mosteiros e a grupos de admiradores e aficionados da beleza desta "palavra-cantada".

As principais características do canto gregoriano, também conhecido como canto chão, são: as melodias são cantadas em uníssono (monódico), sem predominância de vozes, ou seja, rigorosamente homofônico; de ritmo livre, sem compasso, baseado apenas na acentuação e no fraseado; cantado "a capella", isto é, sem acompanhamento de instrumentos musicais e suas letras são em latim, tiradas, em sua grande maioria, dos textos bíblicos, sobretudo os salmos.

Em 1994 houve um "renascimento" do canto gregoriano quando foi lançado pela EMI, em CD, um disco que havia sido gravado há mais de 20 anos pelos monges do Mosteiro de Santo Domingo de Silos, norte da Espanha – o disco alcançou o primeiro lugar em vendas em vários países, atingindo a marca de 5 milhões de cópias vendidas.

O conjunto alemão Enigma que gravou o disco MCMXC A.D. com músicas de rock (Sadness e outras) em estilo gregoriano e fez bastante sucesso em todo o mundo, além de outros grupos que lançaram os CDs: The Ultimate Compilation – Real Sadness & Other Gregorian Mysteries; Gregorian Dance e o Chantmania, gravado pelo The Benzedrine Monks of Santo Domonica.

Recentemente surgiram outros dois ótimos grupos que também lançaram músicas de rock em estilo gregoriano: The sound of silence, Tears in heaven, In the air tonight, Eden (Sarah Brightman), When a man loves a woman e outras. Vale a pena conhecê-los e visitar a página deles: Masters of Chant e Lesiëm

A melodia monofônica do canto Gregoriano, também conhecido como cantochão, diminui o nível de ansiedade de mães que têm seus filhos hospitalizados. Percebendo que a música tem a capacidade de permear o cotidiano do ser humano, a enfermeira Ana Paula Almeida comprovou, em sua pesquisa de mestrado, que o ritmo do canto Gregoriano pode ser utilizado como prática alternativa em ambientes clínicos, auxiliando no enfrentamento da dor, do medo, da angústia e da insegurança vivenciados pelas mães de crianças que estão em tratamento no Hospital.
Segundo Ana Paula, o cuidado que o Hospital precisa ter com o estado emocional da mãe deve ser equivalente ao cuidado prestado à criança. “Quando a mãe está nervosa, ansiosa e impaciente, ela transmite esses sentimentos para o filho, o que pode prejudicar a recuperação da criança”, explica a enfermeira. Por meio de sua pesquisa, Ana Paula evidencia que as práticas alternativas são uma forma eficiente de “olhar com mais atenção para essas situações que influenciam no tratamento”. “Essas práticas são mais acessíveis e baratas, e trazem benefícios para os pacientes”, completa.
A fim de verificar se o ritmo do canto Gregoriano poderia realmente servir como prática alternativa para tranquilizar as mães, a autora da dissertação Canto Gregoriano como redutor de ansiedade das mães de crianças hospitalizadas: estratégia para a enfermagem comparou o nível de ansiedade de 28 mulheres, cujos filhos estavam internados em uma unidade de especialidades pediátricas, antes e depois de ouvirem sete músicas do estilo escolhido para o estudo.
O estudo constatou, estatisticamente, que houve redução do nível de ansiedade das mães após a audição do cantochão. Segundo Ana Paula, isso acontece por causa do perfil musical deste canto, e não por causa do conteúdo. O ritmo do estilo musical é marcado pela tranquilidade, mansidão e calma, que já eram características atribuídas a esse gênero desde a Idade Média. “Por ser uma música de cunho religioso, algumas mães que não eram católicas se recusaram a ouvir, apesar de ser explicado a elas que a pesquisa se relacionava ao estudo do ritmo musical”, aponta.
De acordo com a enfermeira, as mães que participaram da pesquisa concordaram que o canto Gregoriano é como um “mar calmo”, e como disse uma das mães, “realmente faz a gente se sentir melhor”. A pesquisadora esclarece ainda o porquê da diminuição da ansiedade, explicando que “ao ouvir o canto, você se deixa envolver pelo ritmo, e sua respiração também. E sendo uma música monofônica, sem muitas oscilações de tons, a respiração começa a ficar tão calma quanto o som que está sendo ouvido, promovendo um relaxamento e, consequentemente, reduzindo a ansiedade”.
Depois de comprovar a eficácia dessa prática alternativa no hospital onde foi realizada a pesquisa inédita, Ana Paula propõe que sejam pensadas diversas formas de aplicação da música em ambiente hospitalar, já que é um modo acessível e inovador do cuidar. Segundo ela, que conhece as possibilidades de expressão, união, alegria, encontro e cuidado promovido pela música, a prática é capaz de contribuir para o bem estar dos pacientes, acompanhantes e profissionais da saúde.
Medição da ansiedade
Para medir o nível de ansiedade, Ana Paula utilizou o Inventário de Diagnóstico de Ansiedade Traço Estado (IDATE), que consiste em um conjunto de questionários autoaplicáveis. As perguntas que se referem à ansiedade ‘Traço’ lidam com as diferentes reações de cada pessoa diante de uma situação geradora de ansiedade. Já as referentes à ansiedade ‘Estado’ dizem respeito a uma condição temporária e transitória em que a pessoa vive sentimentos desagradáveis de tensão percebidos conscientemente. No caso da pesquisa de Ana Paula, o questionário mostra o nível de ansiedade da mãe que enfrenta a dor da hospitalização de um filho.
As mães que participaram do estudo ouviram as músicas por meio de fones de ouvido, e estavam junto ao filho em quarto individualizado durante a hospitalização. Foram orientadas a escutar os cantos da maneira mais confortável possível. Este procedimento foi realizado duas vezes com cada mãe, e as músicas foram ouvidas na mesma sequência por todas elas.
A dissertação foi defendida da Escola de Enfermagem da USP, no dia 15 de setembro de 2010, e orientada pela Professora Maria Julia Paes da Silva.
Fonte: Agência USP de Notícias







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