ANIMA E ANIMUS-NOSSA NATUREZA INTERIOR É AMBIGUA

A figura interior de mulher contida num homem e a figura de homem atuando na psique de uma mulher. Embora desiguais nos modos como se manifestam, anima e animus têm certas características em comum. Ambos são IMAGENS psíquicas. Cada qual é uma configuração que emana de uma estrutura arquetípica básica ( ARQUÉTIPO). Como as formas fundamentais que subjazem aos aspectos “femininos” do homem e aos aspectos “masculinos” da mulher, são considerados como OPOSTOS. Como componentes psíquicos, são subliminares à consciência e funcionam a partir de dentro da psique inconsciente; daí, serem benéficos à consciência, mas também podem pô-la em risco através da POSSESSÃO . Operam influindo sobre o princípio psíquico dominante de um homem ou uma mulher e não simplesmente, como muitas vezes se sugere, como a contraparte psicológica contrassexual de masculinidade ou feminilidade. Atuam como PSICOPOMPO, os guias da alma e podem se tornar elos necessários como possibilidades criativas e instrumentos da INDIVIDUAÇÃO.
Em virtude de suas conexões arquetípicas, anima e animus foram representados em muitas formas e figuras COLETIVAS: como Afrodite, Atena, Helena de Tróia, Maria, Sabedoria e Beatriz; ou como Hermes, Apolo, Hércules, Alexandre, o Grande, e Romeu. Na projeção, atraem atenção e fervor emocional como figuras públicas, mas também como amigos, amantes, viúvas e maridos, banais e comuns. Deparamos com eles como consortes em nossos sonhos. Como componentes personificados da PSIQUE, nos ligam e nos envolvem com a vida (ver PERSONIFICAÇÃO). Uma compreensão e integração completas de cada uma dessas imagens exigem uma parceria com o sexo oposto. O desemaranhamento e o exame de aspectos dessa SIZÍGIA entre ANALISTA E PACIENTE são uma tarefa primária na ANÁLISE.
Entre suas definições (CW 6), Jung resumiu anima / animus como “imagens da alma”. Posteriormente elucidou esta afirmação chamando a cada uma delas de não-eu. Ser não-eu para um homem corresponde, com muita probabilidade, a algo feminino e, porque é não-eu, está fora de si próprio, pertencendo à sua alma ou ao seu espírito. A anima (ou animus, conforme o caso) é um fator que acontece a um indivíduo, um elemento apriorístico de disposições, reações, impulsos no homem; de compromissos, crenças, inspirações em uma mulher – e, para ambos, algo que induz o indivíduo a tomar conhecimento do que é espontâneo e significativo na vida psíquica. Por trás do animus, alegava Jung, jaz “o arquétipo de significado; exatamente da mesma forma que anima é o arquétipo da própria vida” (CW 91, parág. 66).
Estes conceitos foram delineados empiricamente e possibilitaram a Jung dar coerência a uma vasta gama de fenômenos psíquicos observáveis e diferenciá-los posteriormente quando trabalhava com analisandos. Na análise, a separação da anima ou animus está intimamente ligada ao trabalho inicial de tornar a SOMBRA consciente. As imagens originais são ilustrativas de COMPLEXOS psíquicos semiconscientes, PERSONIFICAÇÕES autônomas e amplamente independentes até adquirem solidez, influência e, finalmente, CONSCIÊNCIA, mediante o confronto com o mundo cotidiano. Jung advertia contra conceituar apenas (assim perdendo contato com anima /animus como forças vivas) ou agir de um modo que negue a REALIDADE PSÍQUICA de tais figuras interiores.
A possessão pela anima ou pelo animus transforma a personalidade de modo a dar proeminência àqueles traços que são considerados psicologicamente característicos do sexo oposto. Em um ou outro caso, uma pessoa perde a individualidade, antes de tudo, e, conseqüentemente, tanto o encanto como os valores. Em um homem, ele fica dominado pela anima e pelo princípio de EROS com conotações de inquietação, promiscuidade, mau humor, sentimentalidade – o que quer se possa definir como uma emocionalidade irreprimida. Uma mulher sujeita à autoridade do animus e do LOGOS é controladora, obstinada, cruel, dominadora. Ambos tornam-se unilaterais. Ele é seduzido por pessoas inferiores e forma ligações pouco significativas; ela, sendo absorvida por um pensamento de segunda classe, marcha à frente sob a égide de convicções que não levam em conta os relacionamentos.
Falando em termos não-profissionais, Jung dizia que os homens aceitavam a anima prontamente quando ela aparecia em um romance ou como uma estrela de cinema. Porém, era diferente quando se tratava de observar o papel que ela desempenhava em suas próprias vidas.
Caso houvesse feito uma alegação correspondente sobre o animus, poderia ter dito que até recentemente as mulheres estiveram por demasiado prontas e propensas a permitir que os homens lutassem por elas, esperando secretamente pela libertação por um cavaleiro em um corcel branco. Mas agora que passaram a aceitar seus lugares não como homens mas lado a lado com homens, o assunto é diferente. Querendo gozar de um status de igualdade, mas ao mesmo tempo desejando permanecer fiéis à sua identidade como mulheres, tiveram de harmonizar-se com quem realmente é o padrão em suas vidas e revelar suas fontes íntimas de autoridade.
Hillman (1972, 1975) investigou e elucidou a psicologia da anima. Insiste em que é ela quem personifica a inconsciência de toda nossa cultura ocidental e pode ser a imagem pela qual seremos liberados imaginativamente.
Não existe um trabalho ou uma obra de correspondente profundidade sobre o animus. Além do mais, devido às infelizes conotações da possessão pelo animus que possam haver caracterizado mulheres pioneiras em uma sociedade dominada pelo macho, deu-se muito pouca atenção às intervenções psíquicas do chamado animus positivo ou natural, em confronto como o animus negativo e adquirido (Ulanov, 1981).
Fonte : Dicionário Crítico de Análise Junguiana
Para a Psicologia Analítica, o arquétipo da anima (termo em latim para alma),constitui o lado feminino no homem, e o arquétipo do animus(termo em latim para mente ou espírito), constitui o lado masculino na psique da mulher. Ambos os sexos possuem aspectos do sexo oposto, não só biologicamente, através dos hormônios e genes, como também, psicologicamente através de sentimentos e atitudes.
Sendo a persona a face externa da psique, a face interna, a formar o equilíbrio são os arquétipos da anima e animus. O homem traz consigo, como herança, a imagem de mulher. Não a imagem de uma ou de outra mulher especificamente, mas sim uma imagem arquetípica, ou seja, formada ao longo da existência humana e sedimentada através das experiências masculinas com o sexo oposto.
Cada mulher, por sua vez, desenvolveu seu arquétipo de animus através das experiências com o homem durante toda a evolução da humanidade.
Embora, anima e animus desempenhem função semelhante no homem e na mulher, não são, entretanto, o oposto exato. Segundo Humbert, “Anima e animus não são simétricos, têm seus efeitos próprios: possessão pelos humores para a anima inconsciente, pelas opiniões para o animus inconsciente.”
A anima, quando em estado inconsciente pode fazer com que o homem, numa possessão extrema, tenha comportamento tipicamente feminino, como alterações repentinas de humor, falta de controle emocional.
Em seu aspecto positivo a anima, quando reconhecida e integrada à consciência, servirá como guia e despertará, no homem o desejo de união e de vínculo com o feminino e com a vida. A anima será a “mensageira do inconsciente” tal como o deus Hermes da mitologia Grega.
A valorização social do comportamento viril no homem, desde criança, e o desencorajamento do comportamento mais agressivo nas mulheres, poderá provocar uma anima ou animus subdesenvolvidos e potencialmente carregados de energia, atuando no inconsciente.
Um animus atuando totalmente inconsciente poderá se manifestar de maneira também negativa, provocando alterações no comportamento e sentimentos da mulher. Segundo Jung: “em sua primeira forma inconsciente o animus é uma instância que engendra opiniões espontâneas, não premeditadas; exerce influência dominante sobre a vida emocional da mulher.”
O animus e a anima devidamente reconhecidos e integrados ao ego, contribuirão para a maturidade do psiquismo. Jung salienta que o trabalho de integração da anima é tarefa difícil. Diz ele: “Se o confronto com a sombra é obra do aprendiz, o confronto com a anima é obra-prima. A relação com a anima é outro teste de coragem, uma prova de fogo para as forças espirituais e morais do homem. Jamais devemos esquecer que, em se tratando da anima, estamos lidando com realidades psíquicas, as quais até então nunca foram apropriadas pelo homem, uma vez que se mantinham foram de seu âmbito psíquico, sob a forma de projeções.”
Anima e animus são responsáveis pelas qualidades das relações com pessoas do sexo oposto. Enquanto inconscientes, o contato com estes arquétipos são feitos em forma de projeções.
O homem, quando se apaixona por uma mulher, está projetando a imagem da mulher que ele tem internalizada. É fato que a pessoa que recebe a projeção é portadora, como dizia Jung, de um “gancho” que a aceita perfeitamente. O ato de apaixonar-se e decepcionar-se, nada mais é do que projeção e retirada da projeção do objeto externo. Geralmente o que se ouve é que a pessoa amada deixou de ser aquela por quem ele se apaixonou, quando na verdade ela nunca foi, só serviu como suporte da projeção de seus próprios conteúdos internos.
Para o homem a mãe é o primeiro “gancho” a receber a projeção da anima, ainda quando menino, o que se dá inconscientemente. Depois, com o crescimento e sua saída do ninho, o filho vai, aos poucos, retirando esta projeção e lançando-a a outras mulheres que continua sendo um processo inconsciente. A qualidade, do relacionamento mãe-filho, será essencial e determinará a qualidade dos próximos relacionamentos, com outras mulheres. Salienta Jung: “Para o filho, a anima oculta-se no poder dominador da mãe e a ligação sentimental com ela dura às vezes a vida inteira, prejudicando gravemente o destino do homem ou, inversamente, animando a sua coragem para os atos mais arrojados.”
Jung define projeção da seguinte forma: “um processo inconsciente automático, através do qual um conteúdo inconsciente para o sujeito é transferido para um objeto, fazendo com que este conteúdo pareça pertencer ao objeto. A projeção cessa no momento em que se torna consciente, isto é, ao ser constatado que o conteúdo pertence ao sujeito.”
Fonte : Vanilde Gerolim Portillo - Psicóloga Clínica - Pós-Graduada e Especialista Junguiana –São Paulo





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